Apocalipse
Noite fria de pescoços apaixonados
por cachecóis
E o nome do bairro era a tal da liberdade
dos sonhos, que se busca sem nunca encontrar.
Noite quente de amigos aos fogos de muitos sóis.
E o nome da moça era nome de anjo ou, como se disse,
também Juliete, em certas e outras ocasiões.
"Conheço as tuas obras"
- sim, anjo, quem mais pudera? -
"que não és nem frio nem quente;"
- sim, anjo da igreja de Laodicéia! -
"oxalá foras frio ou quente;"
- oxalá, mesmo o frio do inferno! -
"mas porque és morno, e nem frio nem quente,"
- morno, o morno abjeto do vômito! -
"começarei a te vomitar da minha boca,"
oh, anjos de deuses que sequer suponho,
ecos de quatro mil anos na voz de um poeta
José, visionário que me sabe e proclama
"um infeliz, e miserável, e pobre, e cego, e nu."
Domingo, 13 de julho de 1997
Os versos em itálico são do Apocalipse, de
S. João, capítulo 3, versículos 15 a 17