'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Às vezes tem gente boa

20/09/18

Quando ia fechar a porta do táxi, percebi, sobre o assento onde estivera sentado, o celular. Peguei-o e disse ao taxista: "ainda bem que olhei!" Na volta, tomei outro táxi para cruzar o Túnel Velho rumo à Copacabana. Fiquei num supermercado, pois precisava comprar isso e aquilo. No caixa, percebi não estar com o celular, comprado dois dias antes, nos bolsos — homens raramente usam bolsas! — e tentei expor, à caixa, minha urgência para bloquear o aparelho. Ela ignorou.

Por sorte, existia uma loja da operadora a meia quadra dali. Segui célere sem muita consciência das consequências possíveis. Dei sorte: não tinha fila! Um atendente, Leonardo, "me aguardava". Disse ser fácil bloquear e pediu-me um documento. Enquanto lhe entregava, contei onde e como perdera. Ele ouviu e ponderou: "às vezes tem gente boa..." Pegou seu celular, perguntou-me o número e ligou. Depois de um tempo falou: "é... não atende..." mas enquanto dizia isto atenderam. Ele me passou depressa o aparelho e fiz a pergunta idiota: "você é quem achou meu telefone?" Combinamos um ponto para a devolução do recém-adquirido smartphone e ouvi a confirmação "sei bem, às vezes compro biscoitos lá".

Defronte à loja da operadora fica sempre um vendedor de "biscoitos de Petrópolis". Costumo ver táxi parar ali para abastecimento do chofer. Era o marco da devolução. Quando me aproximei, uma senhora também chegou para comprar biscoito. Expliquei ao vendedor ter seu carrinho sido escolhido como ponto de referência e contei minha perda. A senhora se interessou vivamente e logo começou a contar de quando perdera o seu...

Pouco depois, chegava o motorista. Parou e baixou o vidro escuro. Atrás dele parou outro táxi e o vendedor foi até lá atender o cliente, o taxista me devolveu o telefone e eu lhe dei os trocados que tinha no bolso.

Thu, 20 Sep 2018 10:02:57 -0300

Estatisticamente - mesmo no Brasil, a regra é a honestidade. A bandidagem é a exceção. A mídia tenta nos convencer do contrário porque a noticia é o rabo abanando o cachorro...
Adorei a crônica. Grande abraço.

Ebert

Oi, Ebert.

Muito obrigado.
Principalmente aqui no Rio de Janeiro, a mídia costuma pintar um quadro de terror, sim.
Esse enorme poder da mídia molda, em grande parte, nossos rumos.


Thu, 20 Sep 2018 18:57:07 -0300

que legal!!!!
Eu deixei o meu no taxi em Lisboa, mas era daqueles celulares que a gente - eu e você - tínhamos antes de cedermos aos apelos do whatsapp, daqueles que só telefonam eraramente descarregam. Liguei, o motorista atendeu, pedi que trouxesse e ele ficou meio “assim”, daí eu disse que pagaria a corrida e assim o fiz. Foram só 5 euros.
Viu que chique minha perda?
ra ra ra ra
Ah, ia esquecendo: como sempre, excelente crônica que nos leva aos fatos narrados!!!

      sem assinatura

Obrigado.

No final das contas, tudo se toca no cenário lisboeta - a sua perda e a minha, nossas recuperações e nossos taxistas...

Muito mais chique, porém, a sua perda.


Thu, 20 Sep 2018 15:13:15 -0700 (PDT)

tem muita gente boa
q bom ne?

      sem assinatura

Sim, o ser humano traz consigo esse mistério da ética, da capacidade de ser altruísta.
Somos, ao mesmo tempo, fascinantes e abomináveis.


Thu, 20 Sep 2018 22:25:12 -0300

A melhor coisa que existe é encontrar o que se perde.

      sem assinatura

Não sei se é A melhor, mas é uma das melhores, com certeza...


Fri, 21 Sep 2018 11:43:46 -0300

                                 Faz muito bem encontrar gente boa!

                                   Elas ainda existem sim!

                                   Bjs Brte

Se se pode falar assim, tais encontros nos rejuvenescem a alma!

Ainda bem que topamos com pessoas assim!

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