crônica do dia

 

As cores do céu

23/11/00

 

Pouco antes das 5 horas, listras rosa e azul fazem do céu uma paisagem singular e evocativa. Devido ao horário de verão os relógios marcam dez para as seis. Singular porque embora haja buracos, as nuvens continuam esfumadas, sem bordas definidas nas transições para o azul. Agora, do branco para o azul; antes, do rosa. Evocativa porque certas paisagens - do céu, da terra ou do mar - têm o poder de produzir sensações que, como quase tudo que sentimos, a razão tenta explicar sem compreender.

Ah, que vastas paisagens povoariam a memória ancestral de nossas almas? - e já se fala do que se ignora! A palavra estigmatizada na capa do livro - saudade - e uma paisagem campestre morro abaixo, em idílico vale emoldurado por imponente árvore. Infância, território de mistérios sem retorno! E a palavra bóia como desafio: alma? Ânima? O que anima, movimenta, distingue do vegetal o animal?

O que sabemos dos outros bichos? A gata franzina, magrinha, pula sobre o cão com 30, 40 vezes seu peso, treinado para a ferocidade. Ataca com os pêlos hirtos e o arranha com unhas afiadas. Procura os olhos, talvez - o cão sangra bastante na face. A frágil gatinha negra está com cinco filhotes rajados, vira-latas, que ela defende com unhas - e dentes se precisar. De inimigos reais ou sonhados... Priscila, a gata, parece um desenho do antigo Egito.

Há milênios alguns bichos moram nas casas dos homens. Devem ter aprendido muito. O cão, ao ver que acariciamos o gato, vem e estende a pata ou procura chamar atenção de outra forma. Comportamento que atribuímos ao ciúme.

Nebuloso, sem bordas definidas, as nuvens deixam o céu com zonas quase azuis e um sol fraco que, pouco depois, volta forte por um breve instante. Muitos sentimentos e sensações desafiam nossa percepção e compreensão como este céu...

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