Diz a manchete da notícia publicada na Zero Hora da última quarta-feira: "Motorista responderá a processo por atropelar galinhas em São Valentim" e acrescenta: "Caminhoneiro irá à Justiça por crueldade contra animais". A matéria explica: o caminhoneiro matou duas galinhas e "o crime poderia ter passado despercebido, não fosse o testemunho de uma promotora de Justiça, que atua na área ambiental". A testemunha, "após ultrapassar um caminhão, assistiu pelo retrovisor ao atropelamento das galinhas." O motorista do caminhão com doze toneladas de carne se explicou: "Complicou porque eu tinha atropelado as galinhas, mas o caminhão estava carregado, e eu não podia parar de vereda, senão iria tombar, podendo morrer ou matar alguém." Esclareça-se para os não gaúchos: "de vereda" é regionalismo e significa já, imediatamente. Quaisquer que sejam suas razões, a promotora de justiça também quis se explicar: "Parece ridículo porque são galinhas, mas como promotora ambiental acho que qualquer vida tem que ser preservada." No dia seguinte, a Rádio Gaúcha levou ao ar o tema, no programa "Polêmica", com a participação de uma veterinária, um advogado, um promotor e um desembargador, além do mediador. Falou-se de muita coisa, mas nenhum dos participantes questionou se a senhora promotora prefere seu churrasco bem passado, ao ponto ou sangrando. Ou se optaria por coxinha de galinha? Ou, caso seja vegetariana, ainda assim defenderia com a mesma determinação o direito à vida dos barbeiros - os insetos, hemípteros hematófagos? Ou se, mesmo sem se opor à morte dos vetores da doença de Chagas, seria capaz, a diligente fomentadora de justiça, de processar o Ministério da Saúde por seu ubíquo incentivo à matança de milhões de Aedes ægypti, uma vida como outra qualquer a depender de outras para continuar a viver? |
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