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Bebês08/10/01 - Malvina! A careca de Pascoal brilha e assinala o profissional à antiga, de dedos fortalecidos nas duras teclas das Remingtons e Ollivetis, máquinas virgens de qualquer inteligência artificial. Pascoal, acostumado a desconfiar de toda notícia que lhe caia por acaso, de fato ou fictício, fácil e pronta no colo a exalar perfumes baratos e a suspirar e suplicar beijos lambuzados de batom, como notícia mais que suspeita, mesmo para um solteiro veterano, acostumado a lhe caírem no colo outras graças, para diversão do corpo e alívio da alma e do bolso. Pascoal gritou mais alto: - Malvina! Chega Malvina mulher. Já não é a Malvina menina nem a Malvina foca que desnorteara o velho Secretário de Redação, quando as redações ainda fluíam sob batutas de secretários todo-poderosos. A exuberância da maturidade esculpira outro corpo na repórter, diante do qual Pascoal, também mais velho, mais careca e mais arguto costumava ponderar: "e tudo isso, tão bem distribuído, não passa de reserva para fazer bebê!" Com um quase sorriso e vivo brilho nos olhos ele afasta as lucubrações: - Malvina, você fala árabe? - Não. - Esteve no oriente médio por esses dias? - Ela se limita a repuxar o canto da boca. Ele a puxa e diz com voz baixa e medida: - E... por acaso há alguma ligação... digamos, mais íntima com o tal árabe? A reação de Malvina fica indignada, mas os mais perspicazes notam que a hipótese também a lisonjeia e o esboço de um sorriso embeleza seu rosto... - ... e você acredita... Pascoal ia continuar, mas a Mulher se impõe com formas e olhares e risos e gestos e bocas e sobras... Sim, Pascoal volta às cogitações, certo de que homens gostam mesmo é de bebês, ainda que sejam apenas bebês potenciais, espalhados por ancas e seios e nádegas femininas. - Malvina, seu cabelo hoje está mais bonito... |
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