Amanhã é dia dos namorados. O penúltimo deste milênio, o que não significa nada, pois existe há pouco, criado pela ganância que inventa dia disso e daquilo para induzir a troca de presentes, sempre com um olho gordo no lucro.
Ignorando o aspecto comercial, e por estarem muito além do mercado, os namorados irão aproveitar o pretexto para novos carinhos e delícias, que só quando se está enamorado é possível compartilhar. Isso lembra Nelson Rodrigues e vocês logo descobrirão porquê.
O tema toma conta da mídia. Somos teleguiados até para namorar. Ontem, uma psicóloga respondia, pelo rádio, a perguntas dos ouvintes sobre namoro, casamento etc. Respondia cheia de vitalidade e com muita sabedoria. Sem titubear, sem ser prolixa.
Ela se mostrou surpresa com o fato da maioria das perguntas virem de homens. Disse que é sinal de uma mudança boa, já que antes, os homens tinham as mesmas dúvidas e a mesma vontade de perguntar, mas o papel social a eles imposto exigia que, sobre sexo e amor, "soubessem tudo", enquanto à mulher, caberia não saber nada.
Ressaltou que, apesar das mudanças aparentes, muitas meras conseqüências de novas tecnologias - quando liguei o rádio discutia-se namoros pela Internet! - apesar disso, na essência as coisas continuavam todas como sempre foram, e os namorados de hoje continuavam tão românticos e tão apaixonados como todos os namorados de todos os tempos.
Ressaltou, numa resposta, que as facilidades atuais para se chegar a uma relação sexual tem vantagens e desvantagens. Apontou, entre estas últimas, no longo caminho que os antigos precisavam percorrer para chegar ao ato sexual, o significado que cada gesto, cada contato, cada nova e pequena intimidade ganhavam. E disse que todo esse percurso representava um aprendizado e enriquecia, não só a bagagem erótica, mas todo o relacionamento.
Foi então que mencionou o fato, constatado em sua experiência, de que é comum, hoje, encontrar um jovem com bastante vivência sexual e... que não sabe beijar. Por isso, falou da beleza, do significado e da importância do beijo. E aí, me lembrei, imediatamente, do Nelson, o grande apóstolo do beijo.
No final, um ouvinte perguntou se a doutora Lídia Aratangy - acho que era este o nome e não tenho a mínima idéia se é assim que se escreve, era rádio! - a doutoura Lídia, primeiro disse que não sabia se deveria interpretar a pergunta como um preâmbulo para um convite ou um pedido de credenciais. Depois, esclareceu que é casada há 38 anos, e se apressou em esclarecer que, claro que não com a mesma pessoa, "pois é impossível alguém viver tanto tempo com a mesma pessoa" e, é óbvio também, continuou, "que nesses anos todos ele mudou, já não é mais aquele garotinho que conheci" e concluiu afirmando que, ela também havia mudado, e muito, junto com filhos e netos.
Publicada sexta-feira, 11 de junho de 1999
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