Qual vespa furiosa, zumbe um helicóptero a ir e vir nos céus de Copacabana. Há um bom tempo persiste esse vai e vem, com o barulho variando de uma lúgubre vibração infrassônica a um trepidar ensurdecedor a calar tudo mais. Sei bem não ser sobre tal ruído, em dia encoberto e com promessa da aproximação de uma frente fria, a trazer vento, chuva e outros incômodos além da queda na temperatura, sei não ser este o tema que me levou a ligar o computador.

Tinha uma frase nítida na mente quando o fiz, mas a máquina demanda tempo para cumprir os ritos designados de sua inicialização e o mundo gira como a Lusitana roda e nesta roda-viva o velho cérebro se distrai e aquilo que motivara o ímpeto de anotar se perde na efemeridade das memórias recentes. Imagino poder resgatá-lo e insisto na pescaria anamnésica. Em que sinapses escondeste-te sentença primeira do texto perdido?

Fisguei! De repente, volta à lembrança o motivo de ligar o computador há mais de uma hora: pensei em fazer, de um ponto de vista estritamente pessoal, um balanço da Copa do Mundo. Um resumo sem abordar os jogos ou o futebol mas, sim, o fenômeno de um espetáculo globalizado a congraçar todos os povos num concerto de todas as nações com todas as raças, uma celebração a irmanar os sete bilhões e tanto que já somos.

imagen da internet

Uma amiga escreveu-me com a elegância e sabedoria de sempre: "A Copa do Mundo? Vi, sempre quando possível, todos os jogos. Não sei nada de football tecnicamente, mas sigo os escritos diários no Estadão, vendo-o como um palco da vida ilustrando todas as forças e fragilidades de nós mortais."

Gosto e sempre gostei do poder de síntese da autora: "um palco da vida ilustrando todas as forças e fragilidades de nós mortais." Tudo dito e bem dito. Abdico de meus comentários, posto estar tudo resumido na poesia destas palavras.

NOTA: Se questionas por que não nomeio a autora, explico: não lhe pedi permissão para publicar o trecho de sua correspondência. Assim, resguardada pelo anonimato, divulgo o que tanto me agradou.