crônica do dia

Bufa

06/12/02

Desprovido das horrendas patas, o bule no mais se assemelha a uma galinha: tem asa e não sabe voar, tem bico e não sabe cantar. Muitos estetas preocupados com questões filogenéticas afirmam ser a chaleira o elo perdido, ancestral comum de bules e galináceos. Em um caso o cocuruto estaria reduzido à crista, noutro, à tampa.

Exatamente na tampa começam os problemas do bule, definido pela Sorbone como "aparelho destinado a transferir os líquidos nele contidos a outro recipiente, por meio da gravidade, de forma gradual e contínua, mediante alteração progressiva do ângulo entre seu eixo e a vertical..." Aí começam os problemas: a tampa cai! E nada pior que a tampa cair sobre o recipiente (muitas vezes de fina porcelana chinesa) em lugar do líquido-tranferente, nome atribuído pelo pessoal da Sorbone ao café, chá, mate e outras infusões nesses casos.

Bem, no bule de design italiano que o Rafa me deu - doravante denominado apenas BUFA - a tampa não cai! Fácil: está presa.

Na operação precípua a que se destina - transferência de líquidos - assume o bico papel relevante e fundamental. Como dissemos, em geral bico de bule não bica nem pica, mas pinga como uma bica qualquer. Epa! Eu disse bica qualquer. Ademais não é qualquer uma que pinga, sobretudo com muita pinga - a pinga resseca. Resseca e dá ressaca. Saca? Relaxa. A tensão é superficial. E, por isso mesmo, o líquido a ser transferido se recusa amiúde a adentrar o recipiente-destino (xícara, caneca, copo, taça, cale-se etc.) e teima em escorrer ou pingar no pires, na toalha, na roupa ou em qualquer outro lugar. Aleluia! Bufa não pinga! Tudo bem que Bufa não voa, não bica nem pica, mas pingar, também não pinga não senhor.

achado de 1989

 

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