desenho de Lu Guidorzi
basta um clique! 

berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Cabrum!

08/09/01

 

"aspas"

exúvia
(z)[Do sing. do lat. exuviae, 'vestidos largados', 'despojos'.]
S. f.
1. Tegumento deixado pelos artrópodes por ocasião das mudas.

cigarra
S. f.
1. Designação comum aos insetos homópteros da família dos cicadídeos, que têm três ocelos no disco do vértice, fêmures do par anterior mais dilatados que os demais e, em geral, denteados embaixo. Os machos são providos de órgãos musicais; as larvas permanecem vários anos no solo, alimentando-se de raízes de plantas.
 [Sin.: cega-rega.]

8. Bras. Marido cuja mulher está fora veraneando ou de férias.

Dicionário Aurélio Eletrônico


"Um dos caracteres mais evidentes das cigarras é o canto dos machos. Cada espécie tem um canto característico e uma pessoa, estando familiarizada com os diversos cantos, pode por eles identificar as espécies. .... desenvolvimento é em geral lento e pode demorar diversos anos. No Leste dos Estados Unidos ocorrem as chamadas cigarras periódicas (Magicicàda), cujo ciclo vital demora 13 ou 17 anos."

Donald J. Borror e Dwight M. DeLong, Estudo dos Insetos, Ed. Edgard Blücher Ltda/Ed. USP, 1969.

As primeiras cigarras! O canto incerto e estridente, ou certo demais lá para elas, cigarras cujas cascas me povoaram a infância, sem nunca ter ouvido falar de exúvias. Hoje, todavia, é inverno, ainda!

"Todos acenando e beijando e flertando e sorrindo e brincando como se estivessem tomando sorvete num ensolarado pôr-do-sol de alguma paradisíaca praia. Como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Como se nunca fosse chover."

O trecho é de Carlos Eduardo Franco e segue numa balada alucinada como editorial da .net, de dezembro de 1997, revista que já não existe mais. O autor e editor da versão brasileira da publicação - a original vinha do Reino Unido - dá uma explicação: "PS: Este editorial foi escrito ao som de doses cavalares de David Bowie, portanto, qualquer semelhança com canções do camaleão nos últimos trinta anos não é mera coincidência." Gosto do resultado do editorial e gostava da revista mas, do trecho acima, queria a última frase: "Como se nunca fosse chover."

"Como se nunca fosse chover", - a chuva como ameaça! A chuva capaz de lambuzar o sorvete, apagar o pôr-do-sol, pôr o mar de ressaca e nos afastar da ilha sonhada, do secreto desejo coletivo de uma felicidade improvável. No quadro alucinado do suposto paraíso, água, só de coco ou do mar. Dos céus, nem pensar!

aquarela do autor

Feriado prolongado e vem a previsão do tempo que todos queriam ouvir: "tempo bom", quer dizer: sol, calor, "como se nunca fosse chover". Estradas entupidas. Oito horas para chegar ao Guarujá. D. Pedro II era mais rápido. "Que braseiro, que fornalha." E a profecia vem pelo fim, o mar vira, a pouco e pouco, sertão.

Se o sertanejo é forte e o inseto, animal terrestre, como quer um livro sobre eles, o homem parece ser bicho da seca, por mais que se faça ao mar e se lambuze de areia na zona da maré ou se finja caranguejo de marola em marola na onda que vai e na que vem, nu à luz azimutal da lua cheia, cheio de filtros, fatores, fundos, pois no fundo, no fundo, prefere seco, com uma azeitona preta, preto no branco, para molhar o gogó, dois dedos, sem medo de se afogar.

Cabrum!

 

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