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Cacos16/9/2004Faltam cento e seis dias para acabar o ano. Faltam seis dias para o equinócio de setembro. Os ares da Primavera trazem um pouco mais de umidade, mas a terra, por aqui, ainda está sedenta e as rodas dos carros levantam pó fino, a evocar cenas de filmes do oeste norte-americano. Sobretudo à tardinha, contra um céu indefinido que dilui o pôr-do-sol. A mensagem me explicava a mim: "... estava eu com pensamentos soltos, me vieram espelhos à mente, depois eram espelhos quebrados, as imagens se multiplicaram em muitas, lacônicas, truncadas, refletidas dos cacos, e depois veio você, suas histórias crônicas paisagens. então eu arrematei e matei a charada.....suas crônicas são reflexos de muitos cacos de espelhos." Assim, sem maiúsculas, do começo ao fim. Autoconhecimento por correio eletrônico. Pílulas virtuais para os males de um novo milênio. (Seria mais modesto dizer de um novo século; mais real dizer da nova década.) A leitora perspicaz me estendia um caco de passado, de meu passado refletido em um pedaço de espelho, sem lembrar que os velhos enxergam mais longe para trás. (Talvez o motivo para se distraírem tanto ao volante esteja nessa irresistível atração pelo retrovisor...) De fato, há trinta anos, mais ou menos, por estar à mão estúdio e iluminação e ver o Acaso me oferecer grandes cacos de um velho e espesso espelho que se quebrou, montei tripé e demais tralhas com a idéia, de início, de fotografar apenas o espelho partido... no fim, havia o reflexo do tripé e do fotógrafo: um auto-retrato. Surgiu assim a mesma imagem do devaneio da leitora três décadas depois. Imagem muito apropriada para entretenimento e diversão em rodas de psicólogos... Personalidade incompleta. Pedaços brilhantes que não se encaixam, quebra-cabeças incompleto, belos fragmentos, brilhos inesperados, cacos... Ah, a eles interpretar! |
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