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Cada um em sua praia04/11/03Algumas mulheres evocam imediatamente o adjetivo perua, malgrado a dificuldade quase infinita de definir tal mulher e de serem apenas subjetivos os critérios de inclusão na categoria. Ainda assim, outro dia me perguntei como Barthes, que ao analisar a Fotografia buscou o traço essencial a distingui-la na comunidade das imagens, qual tornaria impar a perua no universo feminino. Logo me ocorreu o brilho do ouro e de jóias. Lugar-comum, estereótipo banal que logo abandonei. O penteado, talvez, as roupas, a maquilagem? Sapatos, mãos, a fala afetada? O quê? Cada um terá sua resposta. Cada mulher classificará com precisão tais itens e acrescentará outros, que me escapam. Enfim, elegi certo jeito de falar, cheio de afetação e dissimulada arrogância, como marca distintiva da verdadeira perua. O fato é que, basta falar em perua e logo lembro da que virou arquétipo da espécie em minha memória. Em verdade, só a vi na tela, em uma entrevista do tipo "povo fala", em um programinha que fazíamos para pequena emissora UHF. O tema eram os sem-teto e o repórter - aliás, era uma repórter novata, excelente e linda - pedia para moradores de rua e pessoas com aparência de opulência descreverem suas casas. O resultado foi ótimo. A perua estereótipo perdeu-se em minúcias das maravilhas de sua nova mansão e... após uma pausa cheia de afetação, concluiu: "Agora, só falta uma cheroqui na garagem..." Parêntesis: apesar dos resultados contundentes, fui contra se levar ao ar entrevistas sem que os entrevistados soubessem como seriam usadas mas, é óbvio, fui voto vencido. Fecha. Outro dia, uma senhora na tevê lembrou muito a inesquecível perua prototípica, num "povo fala" que pedia opinião sobre shopping-centers abrirem aos domingos, ela não titubeou, disse em tom de veredicto: "Claro, afinal shopping é a praia de paulista, a nossa praia."
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