Morreu na madrugada de hoje, no Copacabana Palace, Jorge Guinle. Ele pediu para vir do Hospital de Ipanema para o mais charmoso dos hotéis, que até outro dia era de sua família, ao saber no hospital, da necessidade de cirurgia urgente para fazer sei lá o quê contra um aneurisma na aorta abdominal, sem o que ele poderia morrer em pouco tempo. Ele optou por esta última hipótese, assinou algo que os noticiários chamaram de "termo de responsabilidade", foi levado para o posto dois, para o prédio cuja inauguração assistiu, com sete anos, para morrer cercado por pessoas que escolheu, sem médicos, tubos, computadores, bipes irritantes, luzes ofuscantes, salas esterilizadas, mãos enluvadas, caras mascaradas, ampolas penduradas, estruturas complicadas, camas de astronautas, olhares apavorados disfarçados por sorrisos mal desenhados - sem nada disso, apenas uma enfermeira, que os noticiários omitiram se seria bonita ou feia, se sensual ou uma velha senhora, da idade do moribundo.
Com 88 anos e já de mãos dadas com a Morte, Jorginho, lúcido para preferir o Copa, por certo escolheria sua enfermeira favorita para ajudá-lo a levar, até ao último sopro, o mito que lhe deu mais fama como playboy que pela incomensurável fortuna herdada ou pelas raízes profundas de seu sobrenome na Cidade Maravilhosa. A lista de suas conquistas inclui nomes como Ava Gardner, Marilyn Monroe, Romy Schneider etc.. Os escândalos em que se metia faziam a delícia dos editores de famosas revistas ilustradas, em meados do século XX.
Na morte, ponto final. Nada de badalações. O enterro deve ter sido nesta manhã mesmo, no mausoléu da família, no São João Batista, sem velório aberto ao público. No morro do cemitério mortos já disputam espaço com os primeiros barracos. Sobre o portão, todavia, o latim tudo ignora, como a academia: revertere ad locum tuum.
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