Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Carne de vaca

17/11/05

Jornalista entrevista jornalista em festa de confetes e uma certa permissividade incestuosa, poder-se-ia dizer. Um acaba de lançar um livro, "Alberto", sobre vida e feitos de Santos-Dumont. O entrevistador pergunta se, no livro, o outro conta o suicídio do aviador pioneiro. O autor diz que sim e, não sei por quê, logo dá explicações. Diz que o tema é abordado "de modo muito didático, apenas no apêndice especial destinado aos pais", no final da obra. Depois, se justifica mais, como se vítima de acusação e afirma que nós todos morreremos.

Bela entrevista, deveras educativa a nos mostrar que já não se fazem crianças como antigamente. Não, dona Sabrina, os métodos continuam os mesmos que levaram Adão e Eva à perdição e expulsão do Paraíso, mas não se fazem crianças robustas como as de outrora, robustas de fibra e coração. Hoje, tudo leva a crer, são mais delicadas, frágeis demais para a vida como ela é, no dizer definitivo de Nelson.

A minha professorinha, e o digo assim só para imitar letrista de samba, disse a nossa turma sem volteios, em vôo rasante e curto como o do próprio 14bis, que "quando viu que seu invento estava sendo usado na guerra, ele se matou..." ele, é claro, era "o pai da aviação" - tudo tão natural que duvido que qualquer um daqueles meninos ou meninas tenha deixado de dormir por causa disto ou que tais palavras possam ter semeado idéias de autodestruição.

Conheci uma menina que se tornou, ainda pequena, vegetariana e, pior, de uma hora pra outra, por trauma. Foi assim: um belo dia ela descobriu que carne de vaca não era, como pensava, mero alimento destinado por deus, prioritariamente, às vacas. Seu pai lhe contou que se tratava de carne mesmo, carne da própria vaca... Ela chorou muitíssimo. Pode, com o tempo, ter superado o abalo gustativo, mas jamais esquecido aquela revelação...

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