.Wed, 26 Nov 1997 11:08:51
Caríssimo cronista,
Michelângelo, se foi!
Isso mesmo, ele, suas imagens, seus pensamentos, Eu me fui...
Falo dele com a intimidade de quem perde alguém muito próximo. Deve ser essa faculdade de mudar de temperamento, conforme a Lua, de 28 em 28 dias, àqueles ciclos aos quais em crônicas anteriores você disse ter uma certa ignorância.
Temperamento, humores, animus ... sei lá quem habita este espaço. Só sei que chove lá fora, uma fina garoa é certo, mas de uma constância, que talvez só a chuva tenha!
A poucos dias me olhando no espelho descobri uma "menina" feliz, de uma felicidade tão particular, tão sua. Não precisava de ninguém pra continuar feliz (as vezes comparto com o Caro o distanciamento das pessoas) afinal eu estava lá.
E os meus olhos, estavam com um brilho inexplicável, se é que eu consigo explicar algo. Hoje também brilham, mas se comportam como o dia, mantêm-se no suspense de uma tempestade, que pelo visto não ocorrerá, e temos a constância, já citada acima, das lágrimas finas.
Que não estão intrinsecamente ligadas à tristeza, e mais a uma saudade do Michelangelo que se foi, dos livros que não li, dos filmes que não vi, da vida que não vivi.
Tá certo, você irá rir e disser que há muito tempo, concordo, mas meio tempo já se foi. E eu passei sem ter feito quase nada, ô saudosismo... e, voltei a me reger pela Luna.
Eu fui ao encontro do desconhecido, e entrei nessa estrada "que ao fim dela não vai dar em nada?".E este encontro foi o encontro de mim mesma, deste alguém que lhe escreve sem reservas, sem máscaras. A exposição pouco me importa, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", tá certo que a minha anda ultrapassando os torturantes limites do corpo.
Esta ultima palavra me fez lembrar, também gosto de
corpos. De dorsos para ser mais exata, desnudos, peludos, desprovidos
de pelos, acompanhados por uma pequena saliência no ventre,
de ombros largos e acolhedores. E a continuação
das pernas, longas, fortes que nas minhas se entrelaçam.
De mãos, (ah!), essas mãos , de onde vem essa tara,
de mãos longas, ágeis, pausadas, que falam e acariciam.Acho
que toca uma campainha, se não é lá fora,
é aqui dentro!
Eva Luna