Poderia começar assim: receita de felicidade: deite-se à vontade em cama confortável, perto de janela ampla que se abra para o sul; ajeite-se com a ajuda de almofadas fofas, se for o caso, em dia quente de céu azul. Azul, azul e apenas azul. E este azul do céu lhe bastará e lhe servirá de alimento e lhe aplacará à alma todo anseio, toda volúpia, todo desejo. Sorva e se embebede do azul que só o céu tem, em alguns dias, puro, imaculado como uma bênção sagrada.
Quando menino pequeno ficava jogado ao léu sobre a cama de colchão de capim, fresquíssima e, pela janela do quarto, a vida me abençoava com seu céu azul. Sentia-me feliz. Aquele azul celestial da infância se tornou inesquecível. O céu poderia ser vermelho, verde, amarelo, mas calhara de ser azul e aquele azul parecia capaz de encantar a todos.
Meu pai tinha um livro, "Astronomia Popular" uma tradução para o português da obra de um astrônomo francês, Camille Flammarion que trazia umas poucas ilustrações coloridas, em folhas de papel especial, grossas, intercaladas por papel fino, translúcido, como se fossem nos sujar de tinta os dedos. Numa delas, o artista em sua fantasia, pintava a paisagem de um planeta com três sóis, de três cores diferentes. Era tétrico como filme de terror. O céu era verde, verde abacate. O nosso era e é azul e luminoso!
Planisfério montado com mosaico de fotos noturnas tiradas por satélites.A partir da tarde, nuvens em abundância tomaram o céu e sobraram poucos buracos de azul, sem a mesma transparência. Elas eram bem-vindas ao pôr-do-sol e o tingiram de cores espetaculares, sempre sobre o fundo de céu azul, agora pálido.
Meia-noite e pouco a chuva chegou com grande alvoroço e pouca água. Uma hora depois, parou, daí a pouco desaguou de novo e se tornou intermitente, como dizem os serviços de clima, os mesmo que asseveram que, desde 1943, nenhum mês superou em águas este março.
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