crônica do dia

Cheia de graça

18/05/05

A manhã de hoje parecia ser dos insetos. O calor fazia esquecer que só faltam 34 dias para o início do inverno. Borboletas, por suas cores e por voarem devagar dominavam o espetáculo, mas uma varejeira verde parou a um palmo, como se viesse anunciar o festival.

As cores da mosca vêm da refração da luz e não de reflexão. Por isso, ganham qualidade especial, brilho que se costuma chamar metálico e que muda como o arco-íris. Elas parecem exigentes em relação à temperatura e acompanham a sombra muda, estão sempre um pouco antes, na luz.

A mosca também pára no ar e, quando foge, o faz tão rápido que impossível acompanhar. Um ouvido apurado pode dizer quantas vezes suas asas batem por segundo pela nota musical que produzem. Algumas chegam a 600 batidas.

As borboletas abundavam em show de cores, tamanhos e padronagens em busca de alimento e calor, mas por um momento uma libélula verde-amarelada roubou a cena, quando pousou num ramo como pingente delicado em orelha de mulher. Imóvel, parecia que só um ponto entre seus olhos imensos a pendurava no frágil graveto onde as patas sumiram ao se agarrar.

Algumas borboletas eram pardas, cor de casca de arbusto, e pousavam de asas abertas. Quando voavam mostravam a intensa cor laranja da parte de baixo das asas. Tinham o tamanho de uma moeda. Outras, totalmente brancas, ficavam quase transparentes a contraluz. Também havia algumas pequeninas, que sempre pousavam de asas fechadas, a mostrar apenas a face inferior e descolorida das asas. Ao voarem, se entrevia o azul maravilhoso da face de cima. Outras tinham desenhos mais deslumbrantes que o mais deslumbrante dos tapetes persa...

É claro, por toda parte está cheio de teias de aranhas. Grandes, pequenas, minúsculas. Alguns pássaros se interessam por todos eles. É a vida cheia de morte. A vida cheia de graça.

 

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