Os primeiros pingos soam como pequenos estalos ao cair sobre folhas ressecadas pela longa estiagem. Logo se multiplicam os sons minúsculos e uma trovoada solitária rosna e retumba a imitar a humana zanga. Todavia, surge a noroeste um fundo azulado entre as nuvens, azul pálido, é verdade, mas suficiente para trazer um mormaço e esboçar leve sombreado na paisagem. Poucos minutos depois calam-se os pingos estalados e algumas vozes de pássaros os substituem. Mais um pouco e a brecha no céu nublado traz de volta o sol forte da manhã de hoje. Dura pouco, no entanto, a alegria ensolarada: chegam nuvens mais escuras acompanhadas por leve e distante trovejar. Escurece e esse escurecimento age sobre o humor dos animais, inclusive o homem. Calam-se pios e cantorias. O rumor longínquo da intempérie se assemelha a grunhidos. De repente, a voz poderosa de um trovão mais próximo e, depois, três notas de espanto de um sabiá. A tempestade se aproxima. Há dias se anuncia sua possibilidade com a chegada de uma frente fria num inverno quente e seco. Os intervalos entre as trovoadas fortes diminuem, mas a água necessária e desejada ainda se abstém. Um avião, provavelmente em voo mais baixo se destaca na paisagem sonora. Volta a cantoria do pássaros na primavera precoce e, por fim, voltam também o estalar miúdo dos pingos nas folhas, agora, sob céu mais sombrio, sob nuvens mais escuras. A expectativa da tempestade, ainda que furioso temporal capaz de ventos e destruição paira com a flutuação de indícios e promessas nos humores da atmosfera. A água continua, por enquanto, suspensa em nuvens pesadas e escuras mantendo sedenta a vida junto ao solo. Mais cedo ou mais tarde chegará a tormenta quer danosa, quer amena e os céus regarão o chão aos cântaros ou conta-gotas e devolverá toda água evaporada. |
Tue, 26 Aug 2014 17:12:24 -0300 Clode, não vejo a hora. bj sem assinatura Sim, toda vida clama pelo elemento vital! Thu, 28 Aug 2014 09:55:54 -0700 que lindo Pois é, mas existe tanta água como sempre, mas gente não, tem cada vez mais. |
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