24/08/99
É curioso: nos acostumamos com o gênero, mera convenção, peculiar a cada língua. O mar, por exemplo, apesar de todo ímpeto contra rochedos, é feminino em francês. A mar, dizem eles. Pelo menos, trocam ao mesmo tempo o gênero da areia, preservando o casal. "A mar apaga sobre o areia os passos dos amantes desunidos" - repete o estribilho de famosa canção francesa.
Sou analfabeto em alemão, mas uma pesquisa no utilíssimo tradutor on-line da Altavista, confirma: são masculinos na língua de Goethe: lua, cadeira e areia. Sol e mesa são femininos. Já mar aparece com um artigo diferente: das, que dois dicionários de bolso me informam ser o ou a. Portanto, o mar fica no meio. No inglês, mais prático, artigos não identificam gênero.
Agora, diga com sinceridade, derradeira e encantadora leitora, você já viu alguma mulher, digamos, apaixonada por um computador? Eu, jamais vi uma mulher com envolvimento mais sério com um reles computador. Já, os homens...
Não raro, a esposa dorme abraçada ao travesseiro do marido, preso à telinha da nova máquina de fazer doido até o dia clarear. Programadores, do bem e do mal, se gabam de passar 14, 16, vinte horas debulhando linhas em seus códigos...
Depois de observar o comportamento dessa maquininha, que os franceses chamam de ordinateur (não sei se seria o que põe ordem nas coisas ou executa as ordens recebidas) por algum tempo, me convenci de sua natureza essencialmente feminina. Não é difícil perceber: é totalmente imprevisível; muda de assunto ou faz perguntas absurdas, nas horas mais inadequadas; não se pode confiar cegamente, ameaça dar pane geral, quando mais se precisa delas (maquininhas); demanda uma dedicação incondicional e de tempo integral; tem um "metabolismo" cíclico e complicado demais, etc.
Esmiuçar essa "natureza", fica para outra ocasião. Agora só procuro um nome, pois computadora seria feio demais...
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