Nuvens, ventos, umidade, a luz do Sol - tudo parece conspirar. Há uma agitação dos elementos como se algo estivesse prestes a acontecer. A natureza parece em conspiração. Até a bicharada parece que fez forfait. A sol tórrido segue-se a passagem de nuvem sombria, que ameaça tempestades e a rajada de vento forte precede a calmaria dos livros de História. Também o cronista, em sua própria oscilação, adia contar a surpresa de um mundo roxo ao abrir, cedo, a janela. Sei que não deveria insistir, falar mais uma vez das efêmeras flores que se abrem na aurora do dia e com ele irão morrer. Mas elas invadem em seu dia de explosão - eclodem, sim, mas de tal forma que explodem no derredor com cor e esplendor a se imporem a tudo mais. Eis a verdade simples: são elas, flores, que me obrigam à repetição ao se repetirem mais escandalosas do que da última vez. Recorro aos números pelo bem da síntese. Foram 82 as que se abriram de supetão nesta manhã. Na ponta do lápis. Vinte e uma a mais do que da última vez que as mencionei aqui. Peguei a fita métrica e tomei nota: no cocuruto da haste mais alta, bem na vertical, a flor se abre a 2 metros e 22 centímetros do chão. No pé mais jovem, que dá sua primeira flor, está a um metro apenas. Dois sabiás iniciam um duelo. Nem todos os bichos faltaram. Aprendi que há quatro espécies diferentes de sabiás por aqui. Destas, duas já se mostraram sem pejo para mim. De todo modo, me parece que as bravatas do clima, com ameaças de temporal, serviu para esconder muitos bichos e noto, em particular, a ausência das pequenas abelhas pretas, que sempre vieram em grande número visitar as flores, estas roxas e tigradas que, outro dia, aprendi se chamarem íris. Hoje, acordei com a absurda idéia de que os picos dos Andes estão menos gelados, o que facilitaria aos sopros do Pacífico ultrapassar a cordilheira. Acordei com a absurda idéia de que os sopros do Pacífico ultrapassariam a cordilheira com mais facilidade por estarem menos gelados os picos dos Andes... |
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