Da página 150 do livro "Anatomia do Poder", de J. Kenneth Galbraith, publicado em São Paulo com tradução de Hilário Torloni, pela Pioneira, em 1984: "Nada oculta melhor o exercício do poder no Estado e do poder através do Estado do que a ladainha política, recitada virtualmente como ofício religioso, segundo a qual todos os homens e mulheres igualam-se em sua soberania na cabine eleitoral e curvam-se ao resultado, reflexo da vontade da maioria. Isto é o que se diz aos jovens; isto é o que todo bom cidadão aceita. Mas isto a experiência cotidiana nega abertamente, visivelmente, inteiramente. No século passado a liturgia democrática ocultava, embora sem muito êxito, a compra de eleitores, a compra de candidatos e o poder compensatório sobre a votação, explícito nos hábitos do patronato. Por todos esses meios, os votos de muitos eram colhidos para os propósitos de poucos. No século atual, a liturgia oculta uma subversão mais imaginosa do processo eleitoral democrático. O eleitor ainda é tido como soberano; e a soberania da maioria continua sendo convertida aos propósitos de poucos. A diferença, na era da organização, é que há um grande número de organizações altamente competitivas engajadas no esforço de subordinar aos seus propósitos o eleitor, e o instrumento dominante é agora o poder condicionado." Poder compensatório é o do dinheiro, paga pela submissão aos desígnios do pagador. Poder condicionado é o do convencimento, catequiza para impor sua vontade pela persuasão. Adiante, Galbraith continua: "No Estado moderno, e particularmente nos Estados Unidos, este condicionamento social é exercido com a máxima intensidade. Discursos, anúncios e publicidade nos jornais, comerciais no rádio e sobretudo na televisão assumem importância fundamental na campanha política moderna." NOTA: cópia manual, estou sem scanner (grifos meus). |
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