Cumbuca
11/05/11
Muito antes de ser apresentado a uma cumbuca, aprendi que nela macaco velho não mete a mão. Ora, a cumbuca salvou-se quando, de uma queda, a menina foi ao chão. Foi ao chão, ralou o cotovelo, mesmo sob os panos das mangas, mas salvou a cumbuca, aqui usada em sentido derivado por analogia, de vasilha. A peça de louça ou de barro - na história não se informou - salvou-se, ainda que se tenha perdido a comida que, com a violência e dinâmica do tombo, se esparramou pelo chão. Caiu a menina e a comida, a cumbuca continuou firme, atada à mão. A história emergiu numa roda de mensagens eletrônicas e omitiu que parte ou refeição se aninhava na cuia ou vasilha, reservada para um desastre futuro. Da conversa inconsequente, restou a palavra: cumbuca, logo assinalada como difícil por um dos correspondentes que, imediatamente, propôs tomá-la como tema de dissertação: poderíamos escrever sobre a cumbuca a muitas mãos, disse em tom de desafio. Com isto, a cumbuca de uma queda de uma escorregadela, se viu feita ficção. Cumpriria contar tudo que não aconteceu, fatos existentes apenas numa realidade virtual - termos que sempre me pareceram contradição - ou é realidade, ou é virtual, ponderei desde a primeira vez que ouvi a locução. Hoje, olho cena de filme e, raramente, o filme é suficientemente bom para excluir-me o ator, como tal, das mentiras de sua interpretação. Que dizer, então, da história de uma cumbuca sem vida - ainda as vindas do fruto da cuieira, morrem longe da árvore mãe -, tão só um objeto a emprestar sua forma a líquidos ou reter unido aquilo que, de outro modo, acabaria por se dispersar. Não, uma ficção sobre essa cabaça hipotética, de nome tupi, a significar 'espécie de cuia': kui 'mbuca, é mais do que sou capaz. Declino de participar da história da cumbuca, que se propôs começar. |
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