'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Curiango

06/08/09

Não escurecera ainda e a lua já boiava imensa, tridimensional e alaranjada sobre o perfil distante da cidade gigante. Ainda uma vez olhei bem, sem achar em suas manchas o cavalo, o guerreiro e, muito menos o dragão. Parecia, isso sim, uma esfera fascinante quase ao alcance das mãos. Tudo prometia uma noite de luar de lua cheia com os mistérios desta luz ímpar.

Nenhuma história para contar. Inerte, testemunho a mancha urbana, as bordas da metrópole, se acercarem como óleo sobre a água. Cumpre-se previsão antiga e as moradias pobres dessas bordas já estão perto, logo ali. Gente expelida pelo ladrão! A noite tomba e as luzes tremulam ao longe. Aviões riscam a imensidão em todas as distâncias e direções. Helicópteros também bóiam no ar, longe.

Distante, no intermitente da luminescência, gira um misterioso farol, como os do mar, com o facho tricolor com as cores da Itália. Na certa não servirá a navio algum e, se apagar, não virará aviso aos navegantes...

Logo, uma manta de nuvens apaga o luar. A noite é clara, mas não enluarada. Não tem estrelas, nem uivos caninos, nem namorados. Às vezes, rasgos no céu encarneirado enluaram com uma lua tímida, envolta em véus e halos mas, se calam os cães, aves da noite, não. Do longe, vêm vários pios e, entre eles um piar antigo, caro e que muito me entreteve quando por aqui cheguei: o canto melodioso do curiango!

imagem da internet
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Outro dia ainda comentava o sumiço desta ave! O curiango, também chamado de bacurau, "de plumagem muito macia e vôo silencioso", nos ensina o Houaiss, e diz mais: "possuem hábitos noturnos e alimentam-se de insetos". Na época, tanto insisti que vi um, de perto, com lanterna. Mas fascinante mesmo era o diálogo de dois indivíduos noite afora num lento e inexorável 'diminuindo' como vela que se acaba. Seriam machos a ver quem o era mais?

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