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Dedurar28/09/00 |
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"aspas" "O tempo da imagem chegou!" de Abel Gance, citada como profética, em 1953, por Carlos Ortiz, em seu Romance do Gato Preto, História Breve do Cinema
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Há apenas quarenta anos, chamar alguém de dedo-duro, delator, alcagüete era ofensa, xingação. Hoje, as mesmas palavras indicam a testemunha, o denunciante e eventualmente, o herói. Estimula-se o alcagüete, o dedurismo - palavra que acabou nos dicionários, com o tom pejorativo de então. Estimula-se a delação de tudo, de qualquer coisa tida como ilegal - do pior assassinato à cópia xerox do livro escolar ou programa de computador. Fizemos uma sociedade policial, que acredita na eficácia do poder de polícia e na repressão como meios para combater a violência, com mais violência. Fizemos uma sociedade onde o medo é o arquiteto maior e o fruto do medo é a violência, que aumenta o medo, que torna essa sociedade ainda mais violenta... Acho que não é a primeira vez. Na Idade das Trevas a Santamadrigreja também torturou e queimou e o apelido do medo era diabo, demônio, Satanás, Satã, Lúcifer, era o anjo rebelde, o Príncipe das Trevas e por aí vai. Agora se vêem testemunhas encapuzadas nos tribunais, a dois dedos das lentes gulosas das televisões, enquanto juízes e advogados ensaiam sorrisos para disputar pontos de ibope com palhaços e jogadores de futebol. Criam-se, com o dinheiro arrancado como imposto, institutos para proteger os dedos-duros! As indústrias de equipamentos de defesa e ataque - armas, trancas, trincos e trecos de espionagem - nunca desejaram o fim das guerras ou da violência. Sabe-se lá que meios usam para "estimular as vendas de seus produtos e gerar milhões de empregos para pais de família" etc. Uma coisa é certa: na marra não se põe fim à violência, é óbvio. Na marra é violência. Além do mais cada sociedade tem o inquisidor que escolhe... ou o que lhe cabe, o que dá no mesmo. |
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