auto-retrato [] Crônica do dia

Desafio

04/11/08

É grande o desafio do educador. As primeiras lições de 'andar de bicicleta', são um bom exemplo da difícil tarefa. A criança vai na bicicleta. O educador, por melhor ciclista que seja, poderá, no máximo, correr a seu lado. Não há como transferir o seu 'saber andar de bicicleta' para a criança. O que ele sabe é dele, intransferível como todo saber. Cabe à criança aprender e o verdadeiro aprendizado é sempre um ato solitário. Aprende-se ao penetrar uma situação, ao vivenciá-la, ao compreendê-la.

O saber de bandeja, pronto e acabado como um belo prato japonês, está morto e só o saber vivo nos alimenta, com o gosto do sangue da descoberta, do tempero imprescindível do inédito pois, mesmo se um milhão de vezes redescoberto, é sempre inédito para quem descobre.

Não importa ao pedreiro o porquê de medir três, quatro e cinco ao alinhar as paredes. Disseram-lhe para fazer assim para ficarem perpendiculares, ele faz e, salvo imprecisões de medição, elas ficam. Tal saber se adquire como batata frita ensacada, no supermercado. (Um pedreiro em cada bilhão, talvez, aprende dali a relação pitagórica).

O maior desafio do educador seria conduzir a criança a descobrir esta diferença. Perceber, ele educador, a inutilidade do saber como a energia dos pés sobre os pedais se transfere à roda pela corrente e a faz girar para aprender a andar de bicicleta, de que pouco importa compreender a ação de freios ou guidom e, se quiser complicar mais, com teorias sobre a importância da ação giroscópica no equilíbrio. Tudo isso, é óbvio, só atrapalharia qualquer um a aprender a andar de bicicleta. No final, todos aprendem, por outras vias, e é para toda vida.

O educador tem a tarefa dificílima de induzir a criança ao aprendizado. Sem catequizar, sem dogmatizar, com cuidado para não destruir a frágil planta em seu nascedouro.

 

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