Descalço
22/01/16
Isso dá um azar danado, comentou. Ora é isso, ora aquilo e os pequenos comentários se somam, quer seja o ouvinte supersticioso ou não. Durante anos, séculos, milênios aumenta a pilha de comentários e, na natureza humana, a predisposição para acreditar além dos fatos. Engendrar filhos da imaginação, atribuir poderes a gestos e palavras corriqueiras, fantasiar leis e lendas do além-mundo e outras quimeras a se estimularem reciprocamente a preencher o livro imenso e jamais escrito das superstições. A divagação expõe minha ignorância da natureza humana, minha incapacidade de nela distinguir o intrínseco do cultural. Desta vez, sobre o ser ou não supersticioso. O diabo cessa seu riso sarcástico e provoca: conta logo a superstição a te afligir e deixa aos filósofos filosofar! Amiúde invoquei Jung e suas "coincidências significativas", sua "sincronicidade" para justificar minhas cismas com coincidências. Eis aí: em princípio uma coincidência é apenas uma coincidência, mas sempre deitei sobre elas olhar contaminado pelo livro imenso jamais escrito. Aos fatos: ontem, ao caminhar pelas largas calçadas - tanta gente já as faz estreitas - de Copacabana, percebi, já bem perto, três pessoas vindo e falando alto. Um homem, talvez com algum sotaque, foi interrompido pela senhora a seu lado quase a gritar: Rubayat, Rubaiat! A churrascaria!, a poucos passos de mim. Pareceu-me ver o assentimento do homem. Passaram. Algum tempo depois, ao reentrar no prédio, recebi do porteiro um livro que aguardava, obra de uma amiga. Acabara de chegar. Breve o lerei, mas adorei uma simpaticíssima dedicatória onde, lá pelas tantas, a amiga e autora rememora fatos da década de 70 e descreve: "Saídas pela noite para mostrar a cidade, você entrando na Rubayat (churrascaria) descalço..." E daí?, resmungou o demo. |
Fri, 22 Jan 2016 17:44:55 -0200 Gostei bem dessa conversa incompleta... sem assinatura Com Satanás? Thu, 28 Jan 2016 23:25:29 -0200 nossa! me esforço mas nnao consigo me lembrar de você entrando na Rubayat descalço! sem assinatura Eu também não lembro, mas a memória é assim: para ela deve ter sido muito marcante esse detalhe e por isto lembraria. Para nós seria coisa corriqueira e evaporou-se de nossos neurônios. |
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