de esporadicidade imprevisível
Dias de transição
23/03/18
Os primeiros dias do outono, aqui, seguem quentes, úmidos, desconfortáveis. Anteontem, ao anoitecer, se confirmou a qualidade especial da luz do dia em seus estertores, a luminosidade peculiar desta estação. No lusco-fusco, por sobre a amplidão imensa do oceano avançava devagar um paredão de nuvens. Vinham do sul-sudoeste em voo rasante, como lâmina espessa sobre a superfície inconstante do mar. A massa de nuvens logo se tornou cinzenta, sem os reflexos rosados ou alaranjados muito luminosos a realçar outras nuvens em camadas mais altas da atmosfera. Em meio a elas, de repente, um avião no rumo do sudoeste se destacou pelo brilho ao refletir como espelho um raio de sol e, para completar a cena incomum, deixava atrás de si um risco branco muito luminoso. A visão durou poucos segundos e a aeronave desapareceu entre as nuvens em movimento. Mais tarde, quando a noite já envolvia a cidade, despencou repentinamente e com estardalhaço toda água acumulada naquelas nuvens em uma lavagem profunda dos ares e chãos da bela capital fluminense. Houve uma pausa na primeira pancada, mas logo recomeçavam as cantadas águas de março, na alvorada do outono, fechado o verão. Choveu pela madrugada e com chuva o dia amanheceu. Chovia ora mais forte, ora parecia que ia parar. No começo da tarde as nuvens ralearam, até mesmo a luz do sol se insinuou mas, na segunda noite novas águas encharcaram outra vez ruas, avenidas, areias e encostas. Ao mar era indiferente o acréscimo de água. Não ficaria menos salgado por isto. Na segunda madrugada quando, da janela elevei o olhar para a abóbada, sorriam-me com todo esplendor Júpiter e a uma constelação da Bandeira, Escorpião. A sexta-feira veio ensolarada, de céu azul e sol beleza, mas a medida que o dia avança os céus se enchem das sobras de nuvens estivais.
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Mon, 26 Mar 2018 10:38:43 -0700 (PDT) o mar nao fica menos salgado sem assinatura Continuo a achá-la muito suspeita... |
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