Dias estivais

26/12/16

Dias estivais - na passagem meridiana as sombras das coisas se reduzem à mínima expressão. Lembram a luz dos flashes anulares.

A reverberação luminosa, nas fachadas, nos pisos, por toda parte fere os olhos. Há um clamor coletivo pela movimentação do ar - a falta de, pelo menos, uma leve brisa torna o calor sufocante: o corpo busca se refrescar, sua, mas os primeiros vapores sem o vento impedem a sequência de evaporação e resfriamento.

A natureza cala, as ruas parecem esvaziadas e tudo se rende face a exposição franca desta faixa do planeta às intensas radiações solares. A essência tropical se faz carioca nesses dias escaldantes, dias estivais. Dito de outra maneira, é verão!

Pessoas se estendem pelas areias e o corpo corre a se defender concentrando o mais que pode melanina sob a cútis. A paleta de cores daí resultante é muito apreciada nas lides inevitáveis dos ritos de procriação. Por outro lado, as estatísticas apontam o aumento do câncer de pele.

Os guarda-chuvas passam a proteger da luz, do calor, da radiação e mudam de nome. São agora sombrinhas, com sua sombra assim minimizada. A antiquíssima estrutura retrátil de varetas é vencedora e, além da proteção pluvial e solar, nos estúdios de imagem mostraram-se superfície refletora muito prática e fácil de armar e desarmar.

O dia segue para o seu ocaso ou, se preferir, o planeta continua seu giro de oeste para leste projetando sombras compridas em direção ao leste, alongam-se progressivamente sem qualquer vestígio de nuvem para as perturbar.

Ao redor dos solstícios, existe uma "parada" do sol e seu ir e vir entre os trópicos, em seu movimento aparente no vai e vem entre norte e sul. Assim como um pêndulo para por um ínfimo instante em cada extremo de sua oscilação, o sol "para" ao interromper a ida para iniciar a volta.

Mon, 26 Dec 2016 14:51:41 -0200

Querido professor

É sempre muito bom ler suas crônica, além do que, ao lê-las, nos vem à mente toda a paisagem por você descrita: para-se um momento no tempo e somos trasladados no tempo e no espaço.

Por falar em parar, na parte em que você fala - 'Ao redor dos solstícios, existe uma "parada" do sol (...) Assim como um pêndulo para por um ínfimo instante em cada extremo de sua oscilação, o sol "para" ao interromper a ida para iniciar a volta' -. lembrei-me de uma de suas aulas, na Enfoco, em que analisávamos fotos. Uma delas representava uma criança no balanço, parado no ar.

E você nos perguntou: "como é possível tirar essa foto, de modo que a imagem fique parada?" Um momento de hesitação e, num flash de memória, me lembrei do tempo de criança em que me balançava no parquinho. Respondi e acertei: do mesmo modo como você descreveu e, assim como o sol, o balanço "para ao interromper a ida, para iniciar a volta".

Bons e queridos tempos esses: o do do parquinho e também o de suas aulas!

Boas Festas Claude, com um abraço bem forte de sua sempre aluna,

Vera Laporta

Vera,

Bela lembrança e contada com elegância e sensibilidade! Obrigado, gostei muito de a ouvir (ainda que me tenha vindo por escrito).

Cumpre também assinalar: muito esperta a "menina" do balanço...

Bom ano para você!


Tue, 27 Dec 2016 21:01:23 -0200

Por este texto e pelos outros que misturam delicadamente ciência e arte como dizia claramente o projeto renascentista italiano e a xihan (dinastia Han do Oeste)cujos artistas acabavam fazendo, depois de uma vida dedicada a pintura de paisagem, lindos jardins baseados na ciência da geologia, botânica, etc., vc deveria organizar livro das suas crônicas.

      sem assinatura

Obrigado pela elogiosa comparação.
Meu pai via na ciência uma solução para, pelo menos, a maior parte de nossos males...
Aprendi com ele a admirar os feitos do intelecto humano.
Quanto à Arte, creio não ter ainda a ciência explicação para o "dom" a assinalar os grandes artistas...
Agradeço o conselho mas, por enquanto, não imagino publicar as crônicas (são já mais de 1500!) além da internet.

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