Divagar sempre

Mais dia, menos dia e surgirá no Brasil um curso superior para formação de jogadores de futebol. Num país cheio de reis e doutores da bola, capaz de se tornar "pátria de chuteiras" e coisa e tal, parece inevitável e hoje, talvez, a Academia tenha mais fome da bola e de seus frutos para adornar becas e rendados plissados.

Imaginemos uma faculdade fadada a formar craques que, além de comerem a bola, não se engasguem com um pornográfico microfone à saída do campo. Além de aulas práticas, como em qualquer clube de hoje em dia, poderiam aprender, os futuros atletas, História do Futebol, as tais dezessete regras que regem uma partida e mil outras teorias, como o efeito do ar rarefeito ou de um vento minuano na trajetória de uma bola e coisa e tal ou as influências da companheira, ou das companheiras, no desempenho do atleta física e psicologicamente.

Os campi universitários despejariam nos campos de futebol desportistas de invejáveis currículos e imponentes adjetivos profissionais. Muita água rolaria e muitos encheriam seus bolsos com muita gaita enquanto se via detentores de diploma, coroados de graus e extensões, se estabacarem pelos mais célebres gramados em tropeços e demonstrações explícitas de tremendos perna-de-pau.

Então, alguém se lembraria de craques de outrora, analfabetos em teorias, mas repletos de intimidade com bola e cheios de malícia e mistérios em seu trato e diria, quiçá com saudade: é dom... já nasceu com ele... não se pode fabricar.

Quiçá outro, alhures, ao ouvir tal comentário ecoaria: sim, salta-me nítido o paralelo com um Bach, um da Vinci, um Fellini, um Dostoievski e tantos outros e outras, que houve, há e haverá! A arte é fruto fácil de falsificar. O artista, porém, o verdadeiro artista, surge quando e onde menos se espera, inevitável, a transbordar seu dom.