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É fácil10/10/03Tomo adágio de Marcos Vasconcelos, o arquiteto, o que me resta na memória de belo e divertido encarte da revista Senhor, do início dos sessenta, onde dizia: "fazer casa é fácil, difícil é fazer canário". O tema volta porque se vê que é tempo de fazer passarinho, basta olhar. Há muita atividade. Afinal, primavera é, pelo menos nos filmes, a época que a bicharada prefere para crescer e multiplicar. Não sinto cheiro de passarinho, mas o velho cão descobre, com o que lhe resta de nariz, um vestígio aqui, outro acolá. Hoje, foi um ovinho quebrado. Há dias, um ninho inacabado, ambos debaixo da paineira. Admirava minha avó a preparar quindins e outros doces. Então, me parecia absolutamente natural vê-la quebrar e separar gemas das claras de uma ou duas dúzias de ovos. Volta e meia era eu a ir buscar ovos na quitanda da esquina, onde seu José, o quitandeiro, os examinava um por um, sobre um buraco numa caixa de madeira com uma lâmpada dentro. Por quê? Era preciso comprar ovos, mesmo com galinheiro e galinhas em casa, diante daquelas quantidades. Por algum tempo se fabricou filme fotográfico à base de clara de ovo! O homem é o grande predador. O branco da casca fina e o amarelo-gema da gema chamam a atenção para o pequeno ovo, que caiu do galho muito alto da paineira e quase induzem o gesto de pegar o saleiro. Mas aos olhos da passarinha trata-se de um filho que não vingou, como os da brava mineira, que contou: "tive seis, mas dois não vingaram, não senhor." Essa mesma avó contava histórias de comilanças memoráveis em sua casa de menina, onde as meninas se divertiam ao provocar um parente voraz, após os banquetes: "fulano, não quer dois ovos quentes para rebater?" E ele: "vá lá, são mesmo como água..." e bebia os filhotes de galinha antes de se lançar às sobremesas. Para passarinho, fazer passarinho é fácil! |
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