Publicação esporádica, destinada a se perder como o mugido da vaca, que continua a mugir apesar de se declarar inútil seu berro.

Roncam por toda vizinhança aparadores de grama. Neste verão aguado toda planta cresce desembestada e luta por seu lugar ao sol, literalmente, ou a luz do sol detrás das nuvens.

Sem as explosões de automóveis do cinema nem suas infindáveis rajadas de metralhadoras, cada vegetal disputa ferozmente com todos os outros. Como qualquer um de nós, busca água, alimento, apoio e, por sua natureza, luz.

Sem paisagistas e jardineiros, sem agricultor ou engenheiro, acabarão mata ou cerrado, caatinga ou grãos de areia empilhados em dunas maravilhosas e estéreis. Dependerá de chuvas regulares, de quanto sol a cada dia. Elas se alimentam de seus cadáveres e de luz. Cobriram a face da Terra, poderiam fazê-lo outra vez.

Nenhum dos cataclismos anunciados reverteria o planeta a seu estado primeiro, de bilhões de anos atrás. No pior cenário a vida teria de se reinventar e, numa segunda vez, na certa seria mais fácil o caminho das pedras...

Um minúsculo passarinho pardo, de uns cinco ou seis centímetros, saltita e cisca no mar de folhas que se sobrepõe a si. Ali, encontrará água, nas muitas gotas que brilham sobre folhas e abundância de alimento em mil formas de vida.

Todos tentam cumprir os dois impulsos com que a natureza se teceu em tão esplêndida diversidade - sobreviver e procriar. Mas... e o Homem? Que papel lhe cabe nessa paisagem? Também lhe bastaria continuar vivo até a velhice e ter filhos e netos?

Que mais almeja este rei dos animais, com que fantasias e quimeras fabrica seus deuses? Em que vapores envolve suas deusas? Por que janelas escapa de si?

Seguem os roncos irritantes de aparadores, ceifadeiras e outras máquinas de poda. Na floresta de chuvas, floresta tropical, são outros os roncos, outras as extensões do homem. A natureza não julga, apenas chove, aquece, degrada e cria.