fotografia: Mima Kubrusly

Em família

05/02/18

Sábado, um passarinho pousado sobre uma das hastes da velha antena a perseverar sobre o telhado apesar de inútil, pois não existe mais o sinal para o qual foi fabricada, me chamou a atenção. A ave se destacava, também, pelo viço e pelo brilho de suas penas escuras.

Este não costuma aparecer por aqui, foi meu primeiro pensamento, enquanto buscava com os olhos o casal habitual durante quase toda a primavera e o verão. Logo avistei as duas aves velhas conhecidas com uma quarta, igualmente pequena e brilhante — ali estavam a família e a explicação!

Eram, com certeza, os filhotes em companhia dos pais a se exercitarem nos primeiros voos. Aprendiam lições só compreensíveis para seres alados. Até anoitecer, as quatro aves propiciaram um espetacular balé aéreo, com mergulhos, rasantes e outras estrepolias no espaço cercado pelos prédios do quarteirão.

Entusiasmado, me projetei com tronco para fora da janela procurando acompanhar melhor o espetáculo, mas logo se viu o efeito desta ousadia de aparência ameaçadora para os pais passarinhos que, cheios de coragem e destreza, arremeteram em revezamento contra meu rosto, em dois mergulhos consecutivos, ousados e assustadores. Por sorte, não atingiram seu alvo, meus olhos!

Depois, foram os quatro praticar na fachada do hotel reformado recentemente, com molduras destacadas em volta das janelas a propiciar bons poleiros para acrobacias e ensaios. A família ficou por ali a induzir voos e voar seguidamente, com incontestável alegria enquanto a tarde caminhava para a noite.

No domingo pela manhã veio confirmação: o casal a se revezar por muitos meses nos cuidados da ninhada, abrigada no nicho deixado pela remoção de um aparelho de ar condicionado, não apareceu mais. As amendoeiras da praça e os coqueiros da praia são decerto um melhor habitat.

Mon, 5 Feb 2018 13:20:02 -0200

Que delícia!

Bjs
Ana

Obrigado.
Também achei, apesar do susto.


Mon, 5 Feb 2018 22:22:45 -0200

Cuidado, menino! Bico no olho não é mole, não!!!
Lindo relato minucioso, mas fiquei confusa: você se refere a 2 famílias - uma que partir e outra que voou no sábado, nee?

      sem assinatura

Eu sei, é assustador. Como são corajosos esses pequeninos!
Não, são os mesmos, defeito da narrativa. A ausência deles na manhã de domingo confirmou minha suposição: só viveram por aqui para criar os filhotes.O vão na fachada do prédio deve ter-lhes parecido um abrigo mais seguro.

|home| |índice das crônicas| |mail|  |anterior|

2458154.97093.1679