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Esfinge zombeteira18/02/00 |
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"aspas" "O negócio é não ficar na beira da calçada para ver o desfile passar. Eu vou junto com o desfile." Mario Lago (aos 88 anos) em entrevista à Bundas. |
Ela sempre pergunta: ... e você não voltou pra cama, não procurou dormir outra vez? Porque ela volta e, como quem procura sempre alcança - não era bem isso, mas serve - ela volta e volta aos enigmas. Sim, porque os sonhos de minha amiga são mais que desvarios de Morfeu, são enigmas de uma esfinge zombeteira. Sei, porque ela gosta de contar o que sonhou. Não que me ache com cara de Sigmund, não seria boba para um errar tanto. Creio que, no fundo, conta para si, mas precisa de uma orelha, como a do padre atrás da treliça do confessionário ou a de Sigmund, por detrás do divã. Ela liga e começa a contar sonhos. Quase sempre, vários, como um cinema onde passa todo tipo de filme: desenho animado, melodrama, romance, ação - eufemismo para filmes onde o tema é violência -, ficção científica, classe bê... bem, os de sexo ela cala. Eu não volto para a cama, não procuro e se torna cada vez mais raro o tênue contato entre os dois mundos: o dos sonhos e este, enfadonho, monótono, rotineiro e aparentemente inexplicável, mundo da razão. Outrora anotava sonhos. Muita gente crê que eles tenham poderes de umbrais para a percepção ou compreensão e recomenda tomar notas, mesmo que no escuro, na cama, sem acender o abajur da cabeceira e com garranchos impossíveis de decifrar. Voltar a velhos sonhos anotados é como buscar o ser em um corpo empalhado - o mais significativo, está no fundo do sonhador. O papel só ajuda a evocar o sonho, não o pode repetir e, muito menos, reproduzi-lo em quem o não viveu. A utilidade de anotar sonhos eqüivale a de uma boa orelha, seja o padre, psicólogo, amigo ou mesmo o papel. Ao tentar contar o sonhador volta um pouco ao sonho, ao mundo de Alice, às maravilhas e megeras de onde, a cada manhã, senhora da razão nos tira pela mão e, com voz suave, repete "filhinho, é tudo faz-de-conta - viu? - tudo de mentirinha..." |
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