Já houve um slogan aqui, foi banido.
Eugenia
31/07/18
A primeira vez vi a palavra em uma pequena placa identificadora de empreendimento, em uma casa do outro lado da rua Batatais, bem defronte à enfoco. Lia-se: Sociedade pró Eugenia ou coisa parecida. A casa não durou muito. Junto com outras, vizinhas, foram demolidas para dar lugar a um moderno edifício de apartamentos, mas a palavra me intrigou: eugenia. Não dizia respeito a uma dama chamada Eugênia pela ausência do sinal diacrítico e por não fazer sentido uma sociedade ou congregação em prol de uma Eugênia sem título nem sobrenome. Era mesmo eugenia. Eu não conhecia a palavra e, muito menos, seu significado e triste história. Na época, corri a dicionários em busca do significado ignorado. O que seria, efetivamente, eugenia? Nos léxicos disponíveis não achei o vocábulo. Ainda não existiam a internet nem o Google. Algum tempo depois, me deparei com uma definição dizendo se tratar, mais ou menos, de uma teoria visando produzir uma seleção em coletividades humanas com base nas leis da genética. Mais tarde, aprendi mais implicações daquele termo e passei a olhar com desconfiança para a tabuleta (na verdade era um luminoso) pendurada na fachada da casa fronteiriça... Agora, passado meio século, esbarro na descrição minuciosa da gradual glorificação da eugenia, na Inglaterra, no final do século XIX, início do XX, através do livro "O Gene: Uma história íntima", de Siddhartha Mukherjee. Sabemos todos aonde desembocou o afã de produzir "uma humanidade melhor" pela seleção humana de seres supostamente mais perfeitos, com toda ignorância e ausência de autoconhecimento de cientistas, políticos e outros envolvidos, no formidável fogaréu das vaidades cantadas pelo Eclesiastes há muitos e muitos séculos. Nas ciências humanas o maior problema, quase sempre, está no ser humano demasiado humano. |
Tue, 31 Jul 2018 10:24:22 -0300 brilhante a frase final. claro, gostei de toda a crônica. sem assinatura Obrigado. Tue, 31 Jul 2018 10:02:49 -0700 (PDT) nossa, q loucura sem assinatura Mas continua sendo o mesmo substantivo de antigamente, comuníssimo, desde que cunhado por Galton, primo de Darwin, no final do século XIX. São palavras diferentes, é óbvio: Eugênia e proparoxítona e eugenia, paroxítona. Eu a vi pela primeira vez num luminoso, defronte a enfoco, como contei. Wed, 1 Aug 2018 07:42:56 -0300 Oi, Clôde Oi, Ana. |
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