Na boca da noite, exímio pincel espraia cores diáfanas em vasto céu tingido, ainda, por azuis cambiantes. Ela olhava um tom longínquo, fugidio, rente ao horizonte, e asseverava: olha lá, tá verde! E meus olhos, confusos, duvidavam, esquecidos do absurdo de discutir cor e gosto. A cada momento a aguada, em permanente transmutação, secava cores, fundia outras, as clareava ou escurecia sob a perplexidade de nossos olhares. Nuvens pesadas, de chumbo, encimavam um horizonte aceso, em brasa, a fulgir luminosos e intensos alaranjados, faixa de luz a se estender estreita e intensa sob plúmbeas tonalidades, como néon a esculpir nuvens taciturnas. Um vento contínuo, de sudeste, embebera-se dos cheiros do mar e, com sopro forte, lhe estendia os cabelos fino e longos, como um aceno no ar. Mais alto, leves nuvens passageiras desfilavam, tintas de mil rosados a se fundir com azuis inumeráveis, nas sobras do dia. Anoiteceu. Aos poucos, tudocalou. Atônita, a paisagem testemunha o luar a brincar de esconde-esconde. A manada de nuvens chega, contínua, vindo do mar. A lua, piscapiscando entre os carneirinhos, apaga e acende brilhos na paisagem. Por fim, toda luz da natureza some e uma garoa finíssima materializa a umidade do ar até um gotejar fortuito na ponta de uma ou outra folha. Mais tarde, atrás de véus espessos da noite, uma lua cheia brilhava para outras paragens, a tecer cenários para outros amantes. No ventre da noite, a sexta-feira espera o sol. Nas contas dos homens, a semana, maio, o semestre - tudo prestes a terminar. |
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