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Extra ecclesia25/11/05Houve um tempo em que todo carro era importado e quase todos pretos. Era preciso esperar muito nas sacadas para ver um passar. O que depois seria chamado de revolução sexual nem ao longe se podia adivinhar. Adolescente, num país católico e metido em colégio-de-padre, onde as únicas saias eram as sujas, longas e negras batinas dos próprios monges e, pior, num mosteiro encravado num morro, na zona do cais do porto, a léguas de distância da rota de qualquer menina! Quer dizer, escapei por pouco de acabar homossexual ou estuprador. Se é que escapei... Quando os hormônios inundavam o sangue e o ser dos meninos, a cumprir o que a natureza testara e aprovara por milênios, os milhões de meninos católicos - e provavelmente as meninas também - se viam, de repente, como réus, sem poder entender nada e nem sequer saber de que eram acusados! Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa repetia reza que se rezava em latim. Não pecar contra a castidade! Pecado capital, pecado mortal! - repetíamos, sem compreender muito bem os adjetivos. E Deus, o próprio Deus em pessoa, teria escrito uma espécie de constituição, sucinta, com apenas dez tópicos onde um diz: "não cometerás adultério" e outro, "não cobiçarás a mulher do próximo". Ou seja, ele gastou um quinto de suas leis com sexo, Deus. Pelo visto, não se pensava em outra coisa! O relato é omisso quanto ao pensamento e sentimento da mulher mas, se eramm tão assediadas, pode-se imaginar outras suas preocupações. Afinal, não é fácil escolher...
Eu, se tivesse que eleger um santo para minha devoção escolheria Fellini. Ah, Fellini e meio! Extra ecclesia nullus salvatio! O cabresto das legislações! - Não pense, filho, eu te tutelarei! Cumpre minha lei e dar-te-ei cura, poder, dinheiro, sexo, prazer, ilusões e tudo mais, até a hora da refeição de nossos vermes, amém. |
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