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Fascinação31/01/05A pequena flor roxa sobre o piano de armário, de som humilde, ao lado de castiçais, de caixinhas, do anjinho e de retratos que viram luz, como a pele, a partitura, os óculos e tudo mais a encher de ressonâncias e ecoar até aqui. Beleza. Um gato, mil gatos, multidão de miudezas que pavoneiam olham a câmara estrangeira, solta, irreverente, rebelde, alheia a cânones como a poetisa e o escritor, solta entre cabras e cavalgadas, juás e o sol perene que tudo invade e viola a contar e transmudar cor, forma e cheiro até, entre pios e balires, cantorias e teclas de marfim amareladas sob unhas de azul profundo em dedos de anel de pedra roxa e tudo reflete o vestido decotado, apertado, de azul intenso , azul como a pequena flor sobre o piano de armário... Fascination. Falta pouco para inaugurar o segundo ano da sétima década de vida e perco mais uma virgindade. Afinal se morre virgem de muita coisa, felizmente e sempre é tempo de inaugurar alguma novidade. Desta vez, foi a virgindade de devedê, o neto chique do cedê. Sábado ganhei meu primeiro devedê. Não era um sutiã, é claro, mas tenho certeza que jamais o esquecerei e o que o torna inesquecível não é o fato de ser um devedê, pois poderia já ter comprado um na banca da esquina ou no supermercado, nem por ser o primeiro, fato que, amiúde, basta para tornar algo inesquecível, não. Lembrarei meu primeiro devedê por muito tempo, se viver para tanto, porque gostei do que vi, do que vi e do que ouvi. Não se pode falar assim de um filme! Do que assisti, embora o verbo me pareça esquisito para uma seção de platéia individual. De todo modo, entre os seis documentários que há ali, gostei de um, em particular, de onde saiu o parágrafo lá de cima. Sua autora o dedica às duas personagens que retrata e homenageia. Como palíndromo, dedico a ela esta croniquim. |
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