Filhote
25/11/11
Sabe aquela fase na vida de uma galinha entre o pinto e o frangote, quando se parece mirrado galináceo, desajeitado como todo adolescente? Pois é, era este o aspecto do jacuzinho peripatético a ir e vir, de pescoço esticado, ao redor dos pais deitados a pouca distância um do outro e contorcendo-se para, com os pés, ora de um lado ora de outro, jogarem para trás a terra fofa como se quisessem ali mesmo se aninhar. Vi o jovem jacu, mais claro que os pais e com um papo esbranquiçado, sem o rubro característico, enquanto falava ao telefone e perambulava, também eu, pela casa. Ao aproximar-me da varanda, vi, primeiro, os dois adultos, jovens eles também - acho que nos jacus mais velhos as penas ficam mais escuras e se percebem menos as pintas -, do mesmo jeito que vi galinhas se aninharem vida afora. Então, algo se mexeu por trás de um deles e o que imaginei ser um pescocinho logo se confirmou e o jacuzinho saiu pela direita, com a arrogância da adolescência, em passos firmes, rumo à outra ave, aninhada pouco mais de um metro adiante. Descrevi, pelo telefone, o que via e, do outro lado, cogitações maternais: será que ele caiu do ninho? E se um gato aparecer, vai atacar o filhote! A cena não me parece de quem caiu do ninho, retruquei e os gatos andam sumidos ultimamente. De fato, às vezes, filhotes caem do ninho antes de saberem voar e muitos acabam morrendo, mas aquela família de jacus parecia mais estar num spa sob a luz suave de uma tarde de primavera. O jovem jacu se aventurou mais longe, no rumo do pé de jabuticaba. Os pais - assim supus - continuavam em seu banho de terra: um sob o velho pé de laranja lima e o outro a um ou dois metros à esquerda. De repente, o jacuzinho bateu asas, voou e pousou num galho baixo da jabuticabeira. Os três ainda ficaram algum tempo por ali. |
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