O domingo veio azul puro e iluminado, além do mais, cheio de flores, como se a estação quisesse provar fama e poder. Contei 21 flores lilases, das que mencionei outro dia, e muitas de Datura verde e rosa, escandalosas em seus 30 cm, da ponta ao talo. Logo, nuvens de sudeste vieram esbranquiçar o azul e esbater o sol em mormaço fraco. Sábado, por aqui, também a noite teve céu nublado a eclipsar de nossos olhos o eclipse total da Lua. Ontem, o céu estava nu e o tempo abafado ao anoitecer. O ar parado, imóvel. Mal o sol sumiu e Vênus se acendeu no oeste, e mais e mais se acendia enquanto a noite se fazia sombra em esplendor escandaloso, a reafirmar a adjetivação do poeta. Bem no alto, como a marcar o zênite, amarelado e menos fogoso, luzia Marte e, aos poucos, se acendiam outras luzes eternas, as mesmas que deslumbraram Sócrates, Tales de Mileto, Galileu, Copérnico e Ptolomeu. As mesmas que inspiraram poetas e cantores desde sempre e emudeceram eternos apaixonados enquanto lhes durou suas paixões. O espetáculo, todavia, seria breve. Naquele instante, cheia e redonda, a Lua andava a pino sobre a África e daí a uma hora, mais ou menos, nasceria, a ofuscar com seu brilho as pequeninas luzes. Passou um vaga-lume como se voasse em câmara lenta, a piscar sua lanterna esverdeada rumo ao terreno vizinho.
Pouco antes de anoitecer, abriu-se uma única datura branca. Passava de sete horas, horário de verão, mais de seis, portanto, pela hora solar. Muitas abelhas esperavam a abertura da flor em forma de trombeta. Difícil de acreditar, mas elas ficam à espera, desde antes da corola se abrir até quando a escuridão ainda as permitir voar. Daturas são plantas venenosas, cercadas de lendas e nomes populares como erva das bruxas, erva do diabo, Datura sagrada etc. São alucinógenas e... há muito mais, mas fica para outra vez, acabou o papel. |
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