Hoje morreu Fladu, mais conhecido como Cadu. Ele está no frontispício deste sítio, ali registrado por Luciana Guidorzi quando ele era apenas um adolescente, com uns oito meses de idade (desenho datado de 19 de novembro de 1997). Trata-se do cãozinho junto à perna direita do criador de ilusões ali representado. Mais de quatorze anos se passaram até esta madrugada fria de seu fim. Há pouco mais de um mês, a velhice e a doença o degradaram a ponto de se desejar abreviar seu sofrimento. Mas ele resistia e, apesar do olhar baço pela catarata e por seu estado, abanou o rabo até o fim. Por volta das quatro da manhã, procurei por ele, agora com a mania de vagar sem rumo por espaços antes ignorados e o encontrei em sua atitude atual de quem não ouve mais e enxerga mal. Com o nariz procurava decifrar o mundo com o que lhe restava de olfato. Preparei-lhe uma cama especial, quente e macia onde, por muitos anos, fora seu quarto particular - a antiga despensa de uma casa erguida longe de toda fonte de suprimento. Chameio-o e ele atendeu, veio até a cama, passou por cima dela e saiu de novo a encarar o vento gelado da madrugada. Deixei-o e voltei a dormir. Por volta de nove horas, comecei a procurá-lo e não o encontrei em nenhum dos lugares costumeiros dos últimos tempos. Sumiu, me dizia sabendo que a verdade era outra. Por fim o achei no declive mais baixo do terreno, caído de lado, com a cabeça para baixo e sem a respiração tão difícil dos últimos tempos. É o ponto final de uma vida. Como nas frases, faz parte dela. |
crônica sobre Fladu na juventude
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