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Flagrante16/09/05Por toda parte há calçadas estreitas, esburacadas, atravancadas por postes, orelhões, caixas dos correios, bancas de jornal, de jogo do bicho etc., Nesse fim-de-mundo o pior é a imundice. As calçadas têm também outros obstáculos, mas é a sujeira que chama atenção e, muitas vezes, o cheiro. Que se diga logo que, por aqui, há pouco cocô de cachorro. Talvez porque os cães por viverem mais na rua também considerem as calçadas suas casas. Em bairros mais ricos, ao contrário, cachorro mora em apartamentos e desce para ir ao banheiro... Há bairros de São Paulo onde é preciso muita atenção a cada passo. Mas a cachorrada de cá não soube ensinar seus donos a importância de manter limpo o lugar onde se vive. Como são casas pequenas - na imobiliária o anúncio diz: casa de laje, cinco cômodos, terreno 10 x 25, 45000 - as pessoas também usam ruas e calçadas como área de lazer. Apesar disso, há lixo por todo lado. A senhora parou para olhar, horrorizada, o líquido que escorria e atravessava a calçada. Passáramos, com cuidado, o obstáculo. O caldo descia devagar, em cascata, de uma escada e saía por uma porta ao rés da rua. Ao lado, na porta de aço fechada se lia doceria. O líquido cinza tinha grãos claros e escuros em textura de vômito. Ela olhou, fez cara de nojo, lançou-me rapidíssimo olhar e seguiu, para logo entrar em uma loja. Adiante, outras poças davam testemunho da convivência pacífica com a sujeira crônica: à flor da água três baratas mortas. Duas com o dorso para cima. A terceira, com as patas para o alto. No caminho passei por sorveterias baratas com banquinhos na calçada, barraca de pastel, de salgadinhos, tabuleiros com balas e doces feitos em casa. Restos, pingos, sobras - vai tudo para o chão. Existe o agradável e o repugnante. O belo e o feio. O saudável e a doença. O nascimento e a morte. Tudo é vida.
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