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Flauta Mágica11/07/05Ao contrário de sábado, quando o dia chegou frio a embaçar os vidros das janelas, mas muito cedo o sol se acendeu como spotlight de luz quente, quase alaranjado, hoje, havia ventos contínuos e frios. Sábado tudo estava imóvel, até mesmo o graveto de trepadeira pendurado em um resto de teia de aranha, como num silêncio visual. Hoje, o vento era mudo, mas tudo acenava. Em geral, o homem usa seu semelhante. Medimos o outro, consciente ou inconscientemente, por sua utilidade imediata ou perspectiva de serventia futura. A medida molda nossa relação, estabelece hierarquias e diferentes formas de tratamentos, ora cheios de subserviência ou arrogância ou bajulação etc. A sociedade reflete esse modo de ser e agir. Afinal, ela é o que somos. De todo lado e sobre todo valor predomina o egoísmo. O interesse pessoal tem primazia sobre tudo. A riqueza material encanta como se fosse a única e, encantados, seguimos o som da flauta mágica como os ratos da fábula. Há milênios o homem sucumbe à melodia da flauta, ao canto da sereia. Há milênios inveja deuses e deusas que, em festas dionisíacas e bacanais, se nutrem e se embriagam com néctares e ambrosias, livres das mazelas de bebidas e alimentos do homem. Como em um palco o spotlight se acende e os atores desempenham seus papéis. Conta-se que Hitchcock disse que, em cena, são todos gado - e esse gado somos nós! - pouco importaria a rês com quem nos cabe contracenar. Interessa que desempenhe seu papel, nos dê a deixa certa etc. Não fossemos nós, seria outro, seria outra a rês e o show continuaria. Não fosse aquele ou aquela, seria outro ou outra para se cumprir o script atá cada spot se apagar. Até a hora de cada qual sair de cena. Há 32 anos, muitos morriam quase em Paris, na queda de avião da Varig, em chamas, em uma plantação de cebolas, ao se aproximar do aeroporto de Orly. |
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