Manifesta-se outra vez o anseio difuso e cíclico de fazer parte da família dos ursídeos. Não pelo tamanho, imponência ou poder desses carnívoros nem por suas garras descomunais, mas unicamente pela capacidade natural que têm de pular o inverno: os ursos hibernam e, quiçá, enquanto isto sonham com dias azuis e ensolarados, com um tempo quente e seco. Diante da atual sequencia de dias escuros, chuvosos e gradativamente mais frios, aqui, deste lado do fim do mundo, me vem o impulso de enfiar-me em toca quentinha e escura e dormir a espera da primavera. Lembro-me de invernos secos - faltam ainda um pouco menos de treze dias para o início da estação -, invernos secos demais, nos pondo a reclamar do pó, de pele rachada, de incômodos nasais. Somos frágeis como toda vida, milagre que exige um planeta com condições precisas, entre limites estreitos - é muito difícil existirem condições propícias à vida, mas extremamente fácil destruí-la. Aranhas penduradas em suas teias ao relento, alguns pássaros nos intervalos da chuva, outros, ausentes - para muitos seres, chuvas prolongadas são um transtorno. Para o jeito de viver humano, sem dúvida. Já, a vegetação, as minhocas, os sapos, os caracóis etc. se regalam, aparentemente, com o excesso de umidade e de água. Mosquitos cujas larvas vivem em águas claras e calmas, também. Como a poesia inúmeras vezes assinalou, a vida também tem suas estações e nascimento e morte não passam dos extremos desta condição formidável e impalpável: estar vivo. Cada estação acaba para trazer outra. Assim, à primavera sobrevém o verão e o outono precede o inverno. O ciclo se repetirá enquanto o eixo de rotação da Terra permanecer inclinado em relação ao plano no qual ela gira em torno do Sol. É tudo muito frágil, um leve peteleco divino poderia pôr tudo a perder. |
Fri, Jun 08, 2012 1:58 pm te adoro, morro de suadades, te desejo um inverno curto e rápido! meu irmão urso! Apesar de tudo, acho bom o ciclo das estações e precisamos passar pelo inverno para chegar à primavera, né? Fri, Jun 08, 2012 10:49 pm Fora o peteleco - que atribuo ao acaso, assino em baixo. Abração. Ebert Tudo bem, como Buñuel, incluo o Acaso entre as divindades plausíveis. Wed, Jun 13, 2012 2:27 pm sabe o que mais me encantou neste seu texto? Pois lembro-me de uma das "Maravilhas da Natureza", quadrinho isolado a acompanhar as páginas de quadrinhos de O Globo de nossa infância, que contava, ilustrado com um desenho (seriam produzidos pelos Estúdios Disney? Tenho vaga lembrança que sim.), contava a história de como a mãe ursa 'lança' seu(s) filhote(s) para a vida e para o mundo: ele aprende tudo com ela e a obedece e imita por dois anos. Aí, um dia, ela o manda subir em um daqueles pinheiros enormes e, quando ele está lá em cima, foge em corrida impossível do pequeno acompanhar... A cena, que li, me marcou para sempre. São mesmo animais extraordinários. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|