O trânsito testava a paciência de cada pessoa ali aprisionada, motorista ou passageiro. Caminhando sem pressa pela calçada se deixava para trás os veículos fumegantes. Entre eles se destacava um, pintado de azul e branco, com dois canos de armas saindo pelas janelas abertas, apontados para o alto e a ultrapassar a altura das portas: um automóvel da polícia militar do Rio. Parecia descabida aquela ameaça, pelo menos na janela do motorista - como dirigir e atirar?
De todo modo, os policiais não demonstravam pressa ou já estariam resignados com o monstruoso engarrafamento daquela tarde. Descrevo a cena em consequência de minha perplexidade diante da brutal violência existente no ser humano. Aqui ou em Damasco, policiais ou terroristas, inimigos ou bandidos somos todos entes humanos antes de tudo, gente, pessoas, animais a se julgarem ímpares entre todos.
A questão da violência exemplifica a inaptidão da mente para solucionar conflitos e turbulências com origem em nossa própria natureza ou, dito de outro modo, problemas comportamentais. Por mais elaborado que seja o planejamento e mais assustadoras as promessas de punição, a mesma mente que aponta a solução encontra meios para a evitar.
Não se resolverá a violência pela intimidação, por ameaças, com brutalidade ou poder. É até possível obter uma diminuição temporária, mas se no íntimo de cada um continuar a inveja, o ciúme, a maledicência, a ira etc., algum tempo depois a violência retornará.
Sem uma mudança nas pessoas (e cada um só pode mudar a si mesmo!) continuará o horror de balas perdidas, ataques, perdas de vidas, do enfrentamento a acirrar disputas e promover mais e mais violência.
Somos um animal capaz de se emocionar com o amor demonstrado por gatos, cachorros e outros bichos e também, linchar até a morte um semelhante.
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Fri, 7 Apr 2017 10:36:05 -0700 (PDT)
right on! como se diria verdade e triste
e o desenho, de quem eh? clode jovem ...
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Quando escrevi,ainda não sabia do ataque norte-americano à Síria nem do atentado terrorista em Estocolmo, mas calhou a triste coincidência.
Quanto ao "desenho", não se trata de desenho mas de uma fotografia modificada com os recursos do IrfanView. Na fotografia original estou no meio da areia jogada pelas dragas portuguesas que depois viraram o Aterro do Flamengo. Deve ser de do início da década de sessenta, imagino.
Fri, 07 Apr 2017 18:31:48 -0300
Muito verdadeiro!
Bj
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Obrigado. (Muito triste também...)
Fri, 7 Apr 2017 21:14:36 -0300
Infelizmente
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Sim, infelizmente.
Sat, 8 Apr 2017 07:57:10 -0300
É triste mesmo. E ainda mais triste ver que esse potencial de agressividade é tão facilmente potencializado por outros sentimentos nefastos: ganância, sede de poder (consequente?), preconceito, fanatismo...
Bjs Ana
Oi, Ana,
A única solução que se pode divisar em um horizonte longínquo é uma sociedade de seres humanos amorosos, é o "amai-vos uns aos outros" e outros conselhos de alguns fundadores de religiões. Não através da fé, mas da compreensão clara do que é.
Sat, 8 Apr 2017 12:00:37 -0300
Querido Amigo,
A história da Humanidade é desde sempre uma sequencia de copulas, agressões e assassinatos. O grande progresso para conter - ao menos parcialmente, esses últimos foi o aparecimento do estado, como Hobbes colocou em 1651 no Leviatan. Cito: "Para Hobbes, o Estado deveria ser a instituição fundamental para regular as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos homens que os impele à busca do atendimento de seus desejos de qualquer maneira, a qualquer preço, de forma violenta, egoísta, isto é, movida por paixões. Afirmava que os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, pois cada um pretende que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele atribui a si próprio. Dessa forma, tal situação seria propícia para uma luta de todos contra todos pelo desejo do reconhecimento, pela busca da preservação da vida e da realização daquilo que o homem (juiz de suas ações) deseja. Deste ponto de vista surgiria a famosa expressão de Hobbes: “O homem é o lobo do homem”."
Esses homens - com os canos das armas saindo pelas janelas do carro, são o que chegou até nós do poder de polícia do Estado. Lamentável, mas assim é.
Abração
Ebert
Amigo Ebert,
Existe um "modelo" de convivência dos seres humanos que prescinde de uma autoridade para haver harmonia e ausência de violência, aquele vislumbrado por Buda, Jesus e uns poucos mais. Nele, o amor substitui a ganância, a avidez, a sede de poder e o resto da lista dos pecados capitais.
A visão de Hobbes lida com os seres humanos tais como somos e deste ponto de vista talvez não exista outra saída, mas cada um pode mudar a si mesmo e com uma sociedade de seres humanos inundados de amor os problemas deixam de existir.
Obrigado por suas palavras.
Grande abraço
Sun, 9 Apr 2017 09:09:05 -0300
Até quando?
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Infelizmente, se existir uma solução, um fim para tanta violência, não será para a nossa geração e nem para a de nossos filhos.
Sun, 9 Apr 2017 12:30:50 -0300
Nossa, você não imagina como eu gostei dete texto, em especial do conteúdo (pra não falar da forma IMPECÁVEL), com o qual concordo como a pessoa que eu sou e como católica. É disso que Jesus fala e nos mostra, mas que acabou sendo transformada (a fala dele, a filosifa cristã) em um pacote de regras e controle de multidões e justificativa falsa para abusos (inquisção, por exemplo) castigos (mais violência) nas mãos de uma instituição humana - a igreja católica, humana, falha, burocrátiva, distorcida, como tantas outra s instituições humanas - religiosas ou não. Adorei. No começo, pensei que você estava contando uma cena da época da ditadura militar. Claro, nada mudou nos quesitos polícia e maldade e violência.
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Fico muito contente ao saber que você gostou. Obrigado.
Da mesma forma que governos não podem solucionar os problemas da sociedade, eco de nosso modo ser, as igrejas também ecoam os seres humanos que as compõem e não se confundem com uma eventual religiosidade no íntimo de cada um.
A mim parece ter existido vez ou outra seres humanos com uma percepção clara das coisas tais como são, sem interferência da própria individualidade, sem contaminação de seus desejos, hormônios e pensamentos. Tais seres acabariam originando as principais religiões da humanidade, organizações com decisiva importância nos caminhos de nossa história.
Certa vez, há muito tempo, comecei uma lista de frases super especiais para mim. Depois de bastante tempo tinha apenas três: "Amai-vos una aos outros como vos amei", "Nunca pensei que existisse tanta coisa de que não preciso" e "É a vida, é bonita e é bonita", respectivamente de Cristo, Sócrates e Gonzaguinha.
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