29/01/02
"A maldade está nos olhos de quem vê" - teria replicado algum clérigo a um comentário irreverente sobre o realismo das pinturas na Capela Sistina.
Sábia e óbvia verdade: sempre os olhos poderão ver outras coisas além daquilo que enxergam, tanto ver a mais, como a menos. Ver o que não existe, como não ver. Tudo depende do jeito de olhar... e de pormenores que não vale a pena esmiuçar.
De todo modo, olhar algo com a inocência e curiosidade da primeira vez é estimulante. Outro dia, distraído pelo aquário mudo da tevê, olhava uma partida como quem nunca viu jogo de futebol e ignorasse suas regras.
Experimente, olhe como quem nunca viu. O que se vê? No campo, duas dúzias de homens, uma bola e duas caçapas, onde se busca enfiar a bola aos chutes. Porém, como na célebre história dos dois burricos com os dois montes de feno, há um problema: também no jogo não se chega a nada, porque metade quer pôr a bola de um lado e o resto, na outra caçapa.
A coisa se complica diante da caçapa, onde um homem se esforça ao máximo para impedir o que tantos desejam e usa, para isso, inclusive as mãos, o que é evitado a todo custo pelos outros.
Há, por fim, um trio com costumes adrede talhados, apito e bandeirolas. Os três procuram evitar que o objetivo do jogo se cumpra. Interrompem jogadas, muitas vezes, quando a bola está prestes a entrar na caçapa e até anulam pontos conquistados, por ter sido a bola, enfim, encaçapada! O que o trio consegue, com certeza, é irritar ao máximo quem pagou pela diversão com o esdrúxulo espetáculo...
Seja na vida, na história dos burricos ou no futebol, a cooperação certamente seria muito mais eficaz. Se todos corressem juntos, ora rumo a uma da caçapas, depois em direção à outra. Como os burros, que assim comeriam todo o feno, a humanidade poderia ganhar de goleada...
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