autorretrato Crônica do dia

Há doze anos

13/09/18

Há doze anos eram outros os candidatos, mas a pantomima eleitoral era a mesma, com o fantasma da Democracia a proclamar a priori a vitória da vontade popular, do povo obrigado ao voto por sua inegável incompetência para decidir se deve, ou não, votar e incumbido a ferro e fogo à decisão de escolher cinco ou seis pessoas de uma vez para... Para, hipoteticamente, serem seus representantes pessoais na encenação maior do legislar e governar. Reelegeu-se, na ocasião, o hoje presidiário, todos sabem.

Há doze anos exatamente se publicava aqui outra pândega a provocar os leitores com um suposto discurso de candidato (não importava qual) a prometer e iludir através de um palavrório rebuscado e vazio. Note-se: não se introduzira, ainda, o Homo verbalis como personagem habitual deste recanto. Como nos fatos corriqueiros de nossas vidas, o discurso, o mundo virtual criado pelas palavras se sobrepunha aos fatos, àquilo que é.

Há doze anos, e há muitíssimo mais tempo, embalamos o sonho sebastianista da emergência de um redentor imaculado, para acordar gentilmente o gigante adormecido e fazer pujante e glorioso o país abençoado por Deus e tropical, de vastas terras capazes de tudo dar, bastando, para tanto nelas plantar e adubar e, nesse embalo, sucedem-se seres humanos, com a beleza e a feiura de tal condição, submetidos ao arcabouço das regras e convenções igualmente erigido por seres humanos etc. etc.

Há doze anos o discurso incongruente imitava Babel ao misturar idiomas e era errático ao mesclar conteúdos em trechos sem sentido. No fundo da brincadeira, pois tudo não passava de uma brincadeira, estava a grande valoração da palavra, emprestando-lhe importância maior do que a atribuída aos fatos, à realidade. Continuamos demasiado Homo verbalis sem poder escolher votar, ou não. Votemos, que escolha?

Thu, 13 Sep 2018 15:20:23 -0700 (PDT)

homo verbalis e nao sapiens, provavelmente, ne?

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Pois é, as palavras substituíram a realidade, os fatos...


Herdamos de Portugal essa esperança de um rei redentor, salvador da pátria. Mas Sebastião é morto.

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