O alcagüete me é abominável, sempre, sob qualquer pretexto. Não se trata de juízo, manifesto um sentimento, algo pessoal. Pode estar, é óbvio, contaminado por preconceitos e atavismos. Pode ser um desvio ou mal congênito, tudo é possível, mas vejo estímulo a delação por toda parte e, como conseqüência, crescer o medo, a insegurança e a violência se banaliza.
Viva e deixe viver - máxima esquecida. Desligue o rádio, apague a tevê, deixe nas bancas jornais e revistas - dê uma chance a você! Use sua máquina das maravilhas, aquela que foi capaz de criar tudo em volta, o bom e o péssimo, o útil e a possibilidade de seu uso cruel, abominável. Tal máquina preciosa acabou drogada em informação, entretenimento, diversão, viciada na pílula do prazer, viciada no gozo automático, do filme, da peça, da piada, da redenção pelo sexo - papéis a espera do ator, ator gado, como queria Hitchcock.
bebê ouakari careca (C. Calvus)Tudo parece correr a mil maravilhas sobre trilhos lubrificados por propaganda - catecismo do que se deve, do que não. Cuidado, estão de olho na butique dela e no bolso seu. Siga a seta: vestir o quê? E comer e beber e fumar e cheirar e orar e... e... e pensar e fazer amar, à inglesa, make love... tudo com equipamentos ultra-hi-tec, pois coração pára quando menos se espera, como cobra, que nunca se sabe de onde sai e o cirurgião opera milagres: tique, taque, tec, hi-tec para além da percepção...
Se o consumo aumenta o traficante aumenta a segurança, a dele e você? Sente-se mais seguro, senta-se e relaxa ou se sente cidadão da cidade global, cabal e, do terminal, alcagüeta a alucinação, a viagem no tilintar e repique de um eco virtual, tão real, de uma realidade banal? Hei, você, hein? Deduraria? Certo de pôr assim seu tijolo no muro, de levar seu grão, gentil leitora, ao monte certo de Psique? Hein?
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