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Inércia1/7/2004Os gregos não podem ler Sócrates no original porque Sócrates não deixou nada escrito. Seu filosofar, todo oral, só nos chegou por Platão e ignoro se podem ler, hoje, o grego de Platão, Aristóteles, Pitágoras, Arquimedes etc. Mas uma vantagem óbvia de se nascer alemão, por exemplo, é compreender Einstein, Goethe, Nietsche e os versos da Nona Sinfonia sem a traição de uma tradução. Bem como ser súdito de uma rainha ou um de texano pirado se compensa com o compreender as palavras de Newton e Shakespeare como as da própria mãe: "Every body continues in its state of rest or of uniform motion in a right line, unless it is compelled to change that state by forces impressed upon it." Bem, neste caso todo mundo sabe a tradução da primeira lei de Newton de cor e salteado, mas a coisa mudaria diante de palavras sedutoras que Romeu sussurrou a Julieta e teriam feito até Shakespeare corar... Ora, quero apenas dizer que a lei enunciada pelo gênio inglês com tanta precisão em relação ao estado de movimento da matéria, se mostra útil, também, para estados psicológicos em seus movimentos mais imponderáveis e difíceis de detectar. A inércia pode nos manter com teimosia em uma atitude burra, que nos prejudique ou tornar quase impossível vencer a preguiça da boa e da ruim, como a classificou Suassuna em sua "Farsa da Boa Preguiça", para começar o que quer que seja. Três meses sem computador criam novos vícios. Uma mensagem e três perguntas: "O computador ocupa um espaço enooooorme. O que aconteceu com esse tempo??? algum sintoma de abstinência digital???" E a resposta é não, ao contrário, parece-me bastante difícil, agora, reencontrar a intimidade com a máquina, pelo menos com a nova, super-poderosa, sem o cheiro, os defeitos e manias da velha, onde tudo é diferente e muito mais bacana e o único velho que resta, sou eu... |
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