Anunciava-se uma nova essência, identificada apenas por um número e, a partir de então, os presentes dispunham de vinte minutos para uma eventual compra. Pouco depois, com um outro número, se lançava nova fragrância, sempre com o mesmo prazo, um terço de hora, para possíveis compradores exercerem tal direito. Seguiu-se assim, confuso e inodoro, o longo sonho noite afora. Sim, inodoro, para meu espanto ao despertar! Se existiu algum odor, desapareceu antes do sonho se evaporar. Durante a noite acordei mas, ao voltar a dormir, retornava àquela espécie de leilão de cheiros sem leiloeiro, sem balconista ou qualquer tipo de intermediário, apenas regras - e as sabia rígidas! - na sucessão de essências oferecidas mas, existentes apenas como números e sem cheiro algum! Também as pessoas, se havia, eram anódinas, mudas, existentes apenas como decoração.

Por que um cérebro fabrica uma história dessas? Não li o livro e nem assisti o filme O Perfume, famoso a seu tempo, tampouco me considerei algum dia dono de um olfato apurado, mas por que, da gigantesca bagunça de informações, inutilidades e emoções misturadas em nossa memória, sorrateiramente, no silêncio relativo das noites de Copacabana, o velho emaranhado de neurônios com suas sinapses e neurotransmissores fabrica uma história dessas?

Não busco interpretações ou significados para os sonhos. Hoje, os olho muito mais como um fenômeno biológico desafiador. Deste, trago poucas imagens, ou mesmo nenhuma. Um sonho de conceitos, ideias, regras, essencialmente burocrático. Aconteceu de sábado para domingo, dia também desafiador, a se impor, contrariando crenças pessoais da inexistência de agouros e fatalidades, como um dia onde tudo deu errado. Os problemas de domingo, todavia, se resolveram na manhã de hoje, quase por automatismo.

Tue, 27 Jan 2015 09:26:10 -0200

Oi Clôde
É uma boa pergunta. Vai saber?! OU, quem sabe, um dia, mas acho que num futuro bem distante...
Bjs
Ana

E, cada vez mais, fica claro que, de fato, nada sabemos.