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Ipê21/08/02 |
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"do Aurélio" ipê epífito |
Manhã prateada... ou seria dourada? Na casca da velha árvore a luz tilinta argêntea, enquanto tinge em ouro as folhas novas do pé de jabuticabas. É tempo de pica-paus. Cedinho, quatro faziam algazarra no que resta do ipê amarelo. Amanhecer de 18 graus, um a menos do que na manhã do dia três de janeiro, em pleno verão. Lá, surpreendia o dia começar escuro e úmido, como agora nos espanta o inverno com disfarce de verão. Talvez não seja a época. Pica-paus, creio, anunciam o fim de árvores. Vêm em busca de larvas de insetos, em geral de besouros, sob as velhas cascas. Atacadas por fungos, epífitos, parasitas, bactérias, vírus e sei lá o que mais na terrível luta pela vida os grandiosos vegetais morrem com dignidade. Pouco a pouco desmontam a imponente estrutura, se desfazem dos galhos, secam e, quando por fim tombam, estão leves e inofensivos. Árvores que caem e provocam acidentes quase sempre são estrangeiras ou vítimas de raio. O velho ipê amarelo está morrendo. A cada ano perde ramos e sua grossa casca se cobre de liquens e fungos cada vez mais coloridos. Só as ramificações mais baixas são ainda capazes de florir, mesmo assim, escassamente. Bem poucas flores, se bem que sempre do mesmo amarelo, intenso e brilhante, ainda mais amarelo e mais intenso quanto mais azul o céu. Agora, pica-paus vêm procurar alimento no tronco do ipê, assim como é nele que um ou vários tipos de inseto criam ninhadas. É suporte e alimento para um sem número de formas de vida, que mal conseguimos imaginar. Nele, a borboleta estampada de poás brancos e pretos desaparece estendida contra a cortiça com asas abertas. Queimadas, suas folhas coriáceas exalam delicioso perfume, incenso de algum deus pagão dos ipês. A cor de suas flores contra a luz tini como puro cristal. Vida e a morte caminham de mãos dadas. |
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