A idéia da precisão, o
sonho da exatidão.
Ah, impotente diante da vida e da morte,
esfacelando-se na humana condição,
vendo o próprio corpo murchar e,
a pouco e pouco, se desmilingüir,
tenta o Homem ser preciso, exato,
absoluto em detalhes impossíveis,
no mimetismo de deuses supostos,
arquitetos e engenheiros de universos,
respingos "tachistas" na noite do espaço
cujos limites sequer pode conceber...
Ah, inveja de deuses sonhados! -
já que o visível, sondável, perscrutável,
é mais difícil conceber, sonhar, quiçá,
acreditar
e fé em deusas e deuses navega à solta
por outros mares, falsos oceanos da Razão,
que se podem descrever com minúcias
tudo muito preciso, com imensa exatidão.
O milésimo de segundo nas corridas de carro,
a fração infinitesimal do segundo de arco,
o tão pequeno quanto se possa desejar - o delta xis.
Ah, às idéias nada limita todos os ideais!
O gás perfeito, a simetria impecável, o ponto,
sem qualquer medida, a reta e sua infinita dimensão.
Os planos cartesianos, a gaiola de toda referência
ou o erro provável na qüinquagésima nona casa
decimal...
E o limite para o qual tende a função de xis,
quando hipsilo tende para o infinito,
é a assíntota - a tangente impossível da
curva perfeita,
a deusa inatingível dos mares não euclidianos
da poeira cósmica impalpável - prenhe já
de novos mundos
num Tempo tão relativo, diante da efemeridade
dos aplausos ao eu, ao meu, à minha deusa,
na constante universal de tanta relatividade.
GV, 23/06/96